Eu ando dando sorte com conversas casuais que se transformam em textos nesse espaço. No meio de dezembro, resolvi fazer uma pesquisa informal no meu instagram e perguntei duas coisas:
- Você confiaria em uma máquina para tomar grandes decisões por você? Sim ou Não.
- Se você pudesse escolher a nova chefia, ela deveria ser um robô ou uma pessoa.
Foi um jeito torto de tentar descobrir a opinião das pessoas sobre inteligência artificial, machine learning e futuro do trabalho. Mais ou menos um outro ponto de vista sobre a pesquisa da Oracle sobre futuro do trabalho que escrevi algumas linhas sobre em outubro de 2019.
As respostas foram interessantes. 81% da turma que respondeu não confia na máquina para tomar as grandes decisões e 84% prefere uma chefia humana e não artificial. Algumas pessoas também mandaram mensagens. E sobre as decisões tomadas por máquinas, o ponto de vista da Carol Reine, designer de UX super experiente e parceira de exercícios terríveis no crossfit, me chamou atenção:
“Dependendo do nível da decisão – confio nela (na máquina) me dando informações pra tomada, não a decisão em si.”
Disso, começamos a conversar sobre complexidade e a quantidade de informações que precisamos dar conta atualmente.
“As pessoas acreditam que a vida é um modelo ideal e tudo que não tá ali é erro. Quanto mais globalizado e cheio de opções a gente fica, mais difícil fica a convivência. A minha questão é: o quanto de complexidade as pessoas conseguem carregar?”
Essa é uma boa pergunta. Acho que estamos aprendendo a medir e carregar toda essa complexidade. Pra mim, o maior aprendizado tem sido estar aberto às novas ideias. Porque, se tem algo que me impressiona atualmente, é a quantidade de vezes que confrontamos o que damos como garantido. Afinal, “a vida é um modelo ideal e tudo que não tá ali é erro”. (Segundo a Carol, essa é a premissa combatida pela Lisa Feldman Barrett no “How Emotions Are Made”)
Como diz a Sonja Blignaut nesse artigo, estar aberto é uma forma de navegar nessa complexidade. Já que tudo mudou e nada é como assumimos, devemos cultivar a curiosidade, entender e buscar a diversidade, saber que existem mais ambiguidades e paradoxos. Isso nos ajuda a processar as informações e a tomar decisões melhores para as coisas que realmente importam.
A Carol disse que quer estudar machine learning pra desenvolver um algoritmo que a ajudasse na escolha da roupa do dia, por exemplo. Uma decisão pequena a menos e mais tempo para as decisões grandes. E com uma vantagem: uma máquina programada por você, com o seu viés. Bem mais seguro do que todas as outras decisões que as máquinas tomam pra gente todos os dias. 🙂
Transportei a pergunta da complexidade pra Natália, minha irmã. Eventualmente temos conversas sobre o tema e achei que seria legal ouvir o que ela tem a dizer. A abordagem é parecida. Pra ela, a gente precisa realmente aceitar a complexidade e não simplificá-la. No entanto, o que a gente precisa é simplificar as coisas possíveis para termos tempo para o que o complexo.
“Acho também que quebrar o problema em problemas menores para ações do dia a dia; mas entender que nem tudo se resolve. A complexidade é real”, me disse a Natália. E exatamente por ser real, a gente precisa observar a forma como reagimos à ela, “entender o que nos cansa por falta de conhecimento ou de habilidade”.
Porque com esse excesso todo, a gente precisa ter certeza de que não vamos dar conta de tudo. Mas precisamos acabar com o medo e a ansiedade de perder alguma coisa. Isso é real. Queremos saber todas as notícias, ter opinião formada sobre tudo, conseguir processar e decidir sobre qualquer intervenção na vida. Mas não dá. É preciso descomplicar e isso é um tremendo aprendizado. Pode ser com máquinas, pode ser com uma vida mais simples, pode ser com os dois.
E finalmente, entender que estamos vivendo uma época cheia de mudanças e ao mesmo tempo que é assustador e complexo, também é fascinante. Se adaptar ao mundo “VUCA” – volátil, incerto, complexo e ambíguo – é sinal de que estamos também nos transformando e entendendo o nosso papel dentro desse novo cenário.
Todo dia, de pouco em pouco.