Ahh, Carter Beauford, que homem maravilhoso. O baterista da Dave Matthews Band é uma das maiores influências que esse escriba tem na vida. E outro dia, o Diego – sempre ele – me mandou essa conversa entre Carter e Harry Miree.
A piada é óbvia. Esse vídeo maravilhoso tem dois problemas: só tem 14 minutos e eu não estou nele. Tirando isso, é o tipo de entrevista que eu adoro, sem focar nas coisas específicas: rudimentos, pratos, pele ou técnica. Foi um espaço pra falar sobre como manter um olhar fresco sobre o que fazemos todos os dias. Carter conta que mantém a mesma paixão pelo instrumento e pela música, mas que sempre tenta trazer um olhar novo pro que faz seja “emulando os seus ídolos” ou “tentando acompanhar o que os novos caras estão fazendo”.
(Ele usa a expressão “cats” pra falar das outras pessoas e eu absolutamente adoro. É super utilizada no mundo do jazz, mas você precisa ser um pra poder usar. Eu não sou.)
Isso é muito interessante. Primeiro, não dar nada como garantido. O Carter simplesmente poderia tocar a mesma coisa todas as noites, mas não, sempre ele aparece com algo novo. E se você já ouviu a Dave Matthews Band, sabe que eles tem dezenas de discos ao vivo, então existe material para comparação. Algumas partes e músicas não mudam, mas outras sempre têm uma coisinha diferente.
E mostrando vários exemplos da mesma passagem de “What Would You Say?” ao longo dos anos, Carter fala que embora esteja focado no resto da banda e em entregar a música, seus heróis estão sempre com ele.
“Tento pensar o que Billy Cobham, Tony Williams ou Jack deJohnette fariam nesse pedaço da música…”
Nesse momento eu pensei que essa afirmação ia contra o que está no meu post sobre o Neil Peart. Lá, contei sobre quando Peart resolveu voltar a estudar com um professor, porque sempre parecia outra pessoa quando tocava jazz. Porém aí veio a conclusão do pensamento do Carter:
“…mas também tento soar feito o Carter Beauford. Todas as coisas que eu escutei, faço com que elas pertençam a mim, de modo que eu tenha alguma coisa pra conversar com aqueles que me ensinaram e fazer a música ser interessante”
É simples e brilhante. Pensa na quantidade de coisas que você já aprendeu e como elas estão na sua caixa de ferramentas. Mais do que isso, pense sobre como você aprendeu e como isso deixou de ser “de alguém” para se transformar em algo seu. Finalmente, como você usa essa caixa de ferramentas para fazer o seu trabalho ou mudar o mundo que te rodeia, em qualquer escala. Porque é isso que conta e é disso que o Carter fala: servir a música, o propósito.
Kobe Bryant disse que roubou todos os movimentos dos grandes jogadores como uma forma de deixá-los orgulhosos e em nome do jogo, algo que era muito maior do que ele. Neil Peart se reinventou e o Carter Beauford se reinventa todas as noites, porque não sobre ele, é sobre a música.
Tem horas que questionar as coisas e achar um novo caminho pro que a gente faz todo dia é desgastante e cansativo, mas a motivação vem quando vemos nossas inspirações se movimentando nesse mesmo processo.
Pra fechar, eu entendo a felicidade do Harry Miree durante a entrevista. Eu passei pela mesma coisa em 2008, antes do show da banda no Rio de Janeiro. O Plauto Covre trabalhava na produção, conseguiu me colocar no finalzinho da passagem de som e no jantar da banda. Pedi uma foto pro Carter, disse que ele era uma inspiração e entreguei uma camisa do Cruzeiro de presente. Meu coração parou por um momento. Não imaginava tamanha gentileza e atenção. Que homem!
Eu e o Carter, antes do show da Dave Matthews Band no Vivo Rio, em outubro de 2008.
Com mais carinho, terminei a leitura do Keep Going, o último livro do Austin Kleon. Nessa entrevista durante o SXSW 2019, Austin explica porque ele resolveu escrever o livro. Basicamente, foi a forma que ele encontrou para manter-se produtivo e criativo durante os tempos difíceis.
Os capítulos do livro fizeram muito sentido pra mim e recomendo bastante a leitura. Eu gosto do jeito que o Austin escreve, cheio de referências e curadoria. O conteúdo faz sentido para todo mundo que tem um ofício, do ramo “criativo” ou não. No entanto, o capítulo que ressoou de maneira especial é a foto que ilustra esse post.
Capítulo 9 do livro do Austin Kleon: Demons Hate Fresh Air
Os demônios odeiam ar fresco. E é irônico eu escrever sobre isso, especialmente porque eu fiz essa foto acima. Claramente, ar fresco é o que mais tenho nesse período de auto-isolamento. Vim para o condomínio perto de Belo Horizonte onde minha mãe, um tio e um primo tem casa dentro do mesmo lote. Um condomínio dentro do condomínio, com gente, espaço e ar livre. Ainda assim, os demônios costumam dar a sua graça.
Os demônios que o Austin faz referência no texto são tanto aqueles que moram dentro da nossa cabeça, nossos medos, expectativas e ansiedades, quanto os que estão do lado de fora, “as pessoas que querem nos controlar através do medo e da desinformação – as empresas, os marketeiros, os políticos – nos querem conectados em nossos telefones e assistindo TV, porque querem nos vender a sua visão de mundo”. Tem horas que é difícil manter distância, afinal:
– É difícil conviver com o demônio. – Ele se esforça muito para ser legal. – Eu te fiz um chá. – Eu não pedi chá.
Nesses quase 50 dias de auto-isolamento, já vi um pouco de todos eles. O tempo elástico e a falta de interferências no dia a dia faz com que a gente revisite os pensamentos que ficam meio enterrados. Comigo, além das pequenas crises de ansiedade, vieram a falácia da super produtividade, de achar que preciso aprender dezenas de novas coisas, até aquele medo de “como será o mundo e a minha vida depois da pandemia”. Tiveram flashes de questionar escolhas e decisões na vida. Aposto que aconteceu com você também.
Junto, vem a “necessidade” da notícia ruim, de ficar lendo mil horas sobre o coronavírus, o caos na saúde, a falta de perspectiva e como é ruim ter um negacionista como chefe do executivo nacional. Um somatório de coisas que nos faz concluir que o mundo é cruel e não merece ser salvo e de como é sedutor querer ficar pra baixo.
O que tem me salvado é exatamente o ar fresco real e metafórico. Todos nós estamos no mesmo barco, esses sentimentos não vão durar pra sempre. Vivemos na eterna impermanência e tudo bem ser assim. Não estou me cobrando mais um excesso de produtividade, de tentar emular o mundo que a gente tinha antes. Se fico tempo demais olhando pra tela do computador, esperando que a inspiração (ou a transpiração) venha por osmose, eu paro. Dou uma volta ao redor da casa, sento no meu banquinho da reflexão ou faço outra coisa qualquer, em uma espécie de procrastinação produtiva.
(Em outro capítulo, o Austin Kleon diz que a produtividade tem temporadas, mas isso é outro assunto)
Mesmo metaforicamente, tento arejar as ideias. Mando uma mensagem pra alguém, vejo o que as pessoas que eu gosto estão fazendo. Não podemos sair na rua ainda, sentar em um bar ainda, fazer crossfit ainda. Mas podemos dar uma voltinha na rua, buscar referências em outros lugares, trocar ideias.
Os demônios odeiam ar fresco. E não estou dizendo que eles irão morrer de um dia pro outro com a nossa exposição ao ar fresco. Mas entender que eles existem e que também existe uma forma de controlá-los e, de alguma maneira, usá-los ao nosso favor.
Ainda existe muita arte para ser feita nesse mundo.
Esse ano, resolvi copiar uma ideia do Bruno Milagres: fazer uma playlist por mês. Aliás, eita pessoa foda para ter boas ideias. Em algum dia do fim do ano passado durante uma cerveja, ele me disse que estava fazendo essas playlists como uma espécie de registro daquele mês.
Comecei a fazer isso também. Sem muitas regras, sem um número mínimo de músicas, sem tema. São as músicas que fizeram sentido para mim no mês. No meu caso, até agora tem a ver com repetição ou lembrança de algum momento. A de abril é essa aqui embaixo:
Se interessar, segue os links para as playlists de janeiro, fevereiro e março. Ah, e tem a minha top 100 da vida também, vinda de um desafio do Rodrigo Borges.
O título pode parecer meio clickbait, mas é verdade. No domingo, tive a sorte de tocar por uns bons dez minutos com o baixista Victor Wooten, ganhador de cinco Grammys. Foi assustador, foi libertador e foi uma aula, não de música, mas de interação humana.
Esse foi o fechamento de uma história que começou em janeiro, quando o convidamos para fazer a palestra de encerramento do Seminário Internacional SESI de Educação. No meio das tratativas, comecei a falar com Ricardo Sdei, um amigo dele aqui em São Paulo, e que estava nos dando apoio durante todo o processo. Criamos um pequeno vínculo por causa da música e do esporte. E na sexta, durante o evento, o Ricardo me convida pra um encontro com o Victor no seu sítio.
“Aparece lá e leva seus pratos”.
Pois bem. Apareci no domingo para uma das experiências musicais e de aprendizagem mais legais que vivi. Quase um mini-acampamento de músicos sob a tutela do Victor Wooten. Dúzias de baixistas, alguns guitarristas e bateristas, entre profissionais e não-profissionais, para um dia de troca de experiências. No começo, uma sessão de perguntas e respostas, depois uma longuíssima jam session.
Dia lindo, lugar ótimo e todo mundo com aquela vergonha de fazer perguntas. Ninguém quer parecer bobo frente ao Victor Wooten. E isso nos rendeu uma leve cutucada. “Fiz uma turnê com o Stanley Clarke e o Marcus Miller e eu os enchi de perguntas. Precisamos fazer o mesmo aqui”.
A medida que a coisa foi fluindo, ficou fácil perceber que ele faz parte daquele grupo de pessoas que não parece ser desse mundo. Falou sobre ética de trabalho, sobre a curiosidade, a vontade de continuar aprendendo, como fazer a diferença no mundo, independente da escala que isso acontece.
“As pessoas vão ao seu show porque gostam de você. Quem não gosta, não está lá. Então não precisa ter medo de experimentar e errar”.
“Quando você vai ao circo, você quer que o equilibrista atravesse a corda bamba em segurança, mas não sem dificuldades. Essas dificuldades nos conectam”.
Victor também falou das dificuldades e das barreiras que ele enfrentou na carreira, principalmente sendo uma pessoa não-branca nos Estados Unidos dos anos 70 e 80. “Pense que todos os seus ídolos, em qualquer área, tiveram barreiras e precisaram usá-las pra avançar”. Quando embasadas, as histórias de superação são realmente importantes.
Foi um bate-papo super inspirador e que deu o tom pra hora da jam. Victor comandou um dos baixos, enquanto os baixistas se revezavam no outro. Na banda, Maurício Leite na bateria e Mello Jr. na maior parte do tempo na guitarra. Todos, sem exceção, completamente hipnotizados com a oportunidade. Entrava baixista, saía baixista e os comentários de choque eram os mesmos.
– Estou tremendo!
– Não estou acreditando que toquei com ele.
Mas havia um sentimento maior no processo, bem explicado pelo Nile Rodgers nesse vídeo. O que os grandes artistas fazem quando vêem um mundo perturbado em sua volta? Eles fazem com que você se sinta melhor. Era isso que o Victor Wooten fazia. Não era um sentimento de intimidação. Ali, éramos todos iguais conversando música.
Permitam compartilhar agora a minha experiência.
Na sexta-feira, o Ricardo contou pro Victor que eu sou baterista. “É, mas eu sou um baterista ruim”, respondi. Victor deu uma risada e colocou os dedos no ouvido. Ele não tem tempo pra essas besteiras. Depois, quando nos despedimos, afirmei que meu groove era bom. Imediatamente pensei que havia ido longe demais, mas tudo bem. Pago análise pra isso.
No domingo eu levo meus pratos, empresto pro Maurício Leite, que está segurando o groove como ninguém. Eu, hipnotizado com tudo que está acontecendo, fico resignado com a ideia de não tocar. Entendam, ninguém havia negado a minha participação, eu que estava colocando essa barreira e bloqueando tudo que ouvi na sexta e no dia sobre errar, se expor e tudo mais.
Eu não ia tocar. Mas aí…
O Victor Wooten olha pra mim e aponta com os olhos pra bateria. Eu faço aquele “não” tímido com a cabeça, tento sinalizar que sou canhoto e a bateria está montada pra destros. O Maurício insiste: “a gente inverte pra você”, o Victor insiste. Era a última música. Fui e sentei em uma bateria montada para destros depois de sei lá quantos anos.
“Só espero não derrubar nada”, pensei. O resultado está aí:
Depois que eu sentei pra tocar, tudo aconteceu de maneira instintiva e natural. Fiz o que sei fazer de melhor no instrumento, conversei com o vocabulário que tenho. Do meu lado, no mesmo lugar que já estiveram o Nicolas, o Diego, o Rafa e hoje estão o Luciano e o Murillo, está o Victor Wooten, o cara que eu cresci ouvindo e que me inspira todos os dias. Junto com a gente, o Mello Jr. e o Ricardo Sdei. Um é um músico condecorado, o outro tem uma relação parecida comigo com ela. Dezenas de pessoas incríveis no ofício da música estão assistindo e essa foi uma das poucas vezes na vida que não senti nada parecido com medo, “provação” ou julgamento. Eu só curti.
É óbvio que há um senso de responsabilidade em não atrapalhar a música, em dividir aquele momento com um dos meus ídolos. Mas nada daquilo foi pressão. Foi uma celebração.
E que bom que pude aproveitar isso. Mesmo se eu errasse uma, duas ou 122 notas, pior seria voltar pra casa com a frustração de querer ter tocado, mas ter me negado a ideia. Pode parecer bobo, mas terminei o dia como uma pessoa melhor e com um sentimento de respeito ainda maior pela música.
Eu ando dando sorte com conversas casuais que se transformam em textos nesse espaço. No meio de dezembro, resolvi fazer uma pesquisa informal no meu instagram e perguntei duas coisas:
Você confiaria em uma máquina para tomar grandes decisões por você? Sim ou Não.
Se você pudesse escolher a nova chefia, ela deveria ser um robô ou uma pessoa.
Foi um jeito torto de tentar descobrir a opinião das pessoas sobre inteligência artificial, machine learning e futuro do trabalho. Mais ou menos um outro ponto de vista sobre a pesquisa da Oracle sobre futuro do trabalho que escrevi algumas linhas sobre em outubro de 2019.
As respostas foram interessantes. 81% da turma que respondeu não confia na máquina para tomar as grandes decisões e 84% prefere uma chefia humana e não artificial. Algumas pessoas também mandaram mensagens. E sobre as decisões tomadas por máquinas, o ponto de vista da Carol Reine, designer de UX super experiente e parceira de exercícios terríveis no crossfit, me chamou atenção:
“Dependendo do nível da decisão – confio nela (na máquina) me dando informações pra tomada, não a decisão em si.”
Disso, começamos a conversar sobre complexidade e a quantidade de informações que precisamos dar conta atualmente.
“As pessoas acreditam que a vida é um modelo ideal e tudo que não tá ali é erro. Quanto mais globalizado e cheio de opções a gente fica, mais difícil fica a convivência. A minha questão é: o quanto de complexidade as pessoas conseguem carregar?”
Essa é uma boa pergunta. Acho que estamos aprendendo a medir e carregar toda essa complexidade. Pra mim, o maior aprendizado tem sido estar aberto às novas ideias. Porque, se tem algo que me impressiona atualmente, é a quantidade de vezes que confrontamos o que damos como garantido. Afinal, “a vida é um modelo ideal e tudo que não tá ali é erro”. (Segundo a Carol, essa é a premissa combatida pela Lisa Feldman Barrett no “How Emotions Are Made”)
Como diz a Sonja Blignaut nesse artigo, estar aberto é uma forma de navegar nessa complexidade. Já que tudo mudou e nada é como assumimos, devemos cultivar a curiosidade, entender e buscar a diversidade, saber que existem mais ambiguidades e paradoxos. Isso nos ajuda a processar as informações e a tomar decisões melhores para as coisas que realmente importam.
A Carol disse que quer estudar machine learning pra desenvolver um algoritmo que a ajudasse na escolha da roupa do dia, por exemplo. Uma decisão pequena a menos e mais tempo para as decisões grandes. E com uma vantagem: uma máquina programada por você, com o seu viés. Bem mais seguro do que todas as outras decisões que as máquinas tomam pra gente todos os dias. 🙂
Transportei a pergunta da complexidade pra Natália, minha irmã. Eventualmente temos conversas sobre o tema e achei que seria legal ouvir o que ela tem a dizer. A abordagem é parecida. Pra ela, a gente precisa realmente aceitar a complexidade e não simplificá-la. No entanto, o que a gente precisa é simplificar as coisas possíveis para termos tempo para o que o complexo.
“Acho também que quebrar o problema em problemas menores para ações do dia a dia; mas entender que nem tudo se resolve. A complexidade é real”, me disse a Natália. E exatamente por ser real, a gente precisa observar a forma como reagimos à ela, “entender o que nos cansa por falta de conhecimento ou de habilidade”.
Porque com esse excesso todo, a gente precisa ter certeza de que não vamos dar conta de tudo. Mas precisamos acabar com o medo e a ansiedade de perder alguma coisa. Isso é real. Queremos saber todas as notícias, ter opinião formada sobre tudo, conseguir processar e decidir sobre qualquer intervenção na vida. Mas não dá. É preciso descomplicar e isso é um tremendo aprendizado. Pode ser com máquinas, pode ser com uma vida mais simples, pode ser com os dois.
E finalmente, entender que estamos vivendo uma época cheia de mudanças e ao mesmo tempo que é assustador e complexo, também é fascinante. Se adaptar ao mundo “VUCA” – volátil, incerto, complexo e ambíguo – é sinal de que estamos também nos transformando e entendendo o nosso papel dentro desse novo cenário.
A sexta-feira terminou com a notícia da morte do Neil Peart, baterista do Rush, aos 67 anos. Pegou muita gente de surpresa, porque ninguém (ou poucas pessoas) sabia(m) que ele lutava contra um glioblastoma, um agressivo câncer no cérebro.
Peart foi ídolo e mentor de toda uma geração de músicos, em maior e menor escala. Todos nós tentamos tocar “YYZ” em algum momento da vida, mesmo que mal e porcamente. Para o público em geral, Neil Peart era o baterista com o instrumento gigante e o “Tom Sawyer” era a música da abertura de MacGyver. Essa foi a primeira vez que escutei Rush, inclusive.
E na história de vida de Neil Peart, além da força para encarar a morte da primeira filha e da primeira esposa, existe um outro ponto que me chamou atenção: a capacidade de se reinventar também como músico. Ele sabia da importância de aprender durante toda a vida.
Em 1992, Peart foi chamado para acompanhar a Buddy Rich Big Band em um show em homenagem ao lendário baterista de jazz que dava nome ao conjunto. Ele topou, porém se deparou com dois problemas: o pouco tempo de ensaio e a percepção que ele tinha aprendido um arranjo diferente do tocado pelo resto da banda. “Eu cheguei no que seria o primeiro solo de bateria só pra perceber que a banda continuava tocando”, ele escreveu certa vez.
Obviamente, a performance não foi lá essas coisas e mesmo em 1994, em uma gravação em estúdio -são condições mais controladas – Peart achava que estava “imitando” alguém e não tocando propriamente o estilo. Como diz o Duke Ellington, “it don’t mean a thing, if it ain’t got that swing“, ou na minha tradução livre, “não significa nada, se você não tem a levada”. 😉
O fato é que para isso não acontecer de novo, Neil Peart decidiu estudar. Um dos bateristas mais técnicos e precisos do mundo, aclamado dezenas de vezes como o melhor de todos os tempos, decidiu começar de novo. Criar novas regras, ter outras ferramentas. Primeiro com Fredie Grubner, lendário baterista e professor de jazz, e depois com Peter Erskine, outro mestre do jazz-fusion.
Neil Peart e Peter Erskine
Quando eu estacionei em frente à casa do Peter e entrei com as baquetas na mão, tive que rir de mim mesmo. Eu era aquele estudante de 13 anos novamente (…) e é claro que eu deveria me sentir assim. Não há sentido em ter aulas se não for para se render ao professor.
É um longo relato, incrível e de uma relação completamente honesta entre mestre e aprendiz, os dois sendo super capazes no que fazem. Neil Peart pegou os aprendizados do jazz e transpôs para a sua música. Recriou sua técnica, redefiniu seu senso de tempo, ganhou um estilo de tocar mais fluido. É preciso muita humildade pra desconstruir – ou seria reconstruir? – o que foi construído, mas as recompensas costumam valer o esforço.
“O que é um mestre se não um estudante-mestre? Existe uma responsabilidade em nós de continuar melhorando” – Neil Peart.
Estava na labuta em algum dia de dezembro, quando pinga uma mensagem do Diego Mancini no WhatsApp:
“meu velho, pelamor, me diz que você viu isso”. Era o link para o show do Vulfpeck no Madison Square Garden. Pra quem não conhece, o Vulfpeck é uma das melhores bandas de funk (?) da atualidade e esse vídeo é uma prova disso (e que talvez valha como trilha pra sua leitura desse post).
Pois bem, uma coisa leva à outra e começamos a conversar sobre essa entrevista recente dada pelo Joe Dart, baixista da banda, especialmente essa pergunta:
Você toca super parecido com o Rocco Prestia (baixista icônico do Tower of Power).
Um dos meus heróis. Quando eu lembro da época de quando comecei a tocar baixo, eu podia ter aprendido usando um dedo, dois dedos, três dedos ou uma palheta. Mas aconteceu do meu primeiro professor ser um baixista que usava dois dedos. O lado ruim disso é que eu não tenho a destreza com três dedos. Eu também não aprendi o slap no estilo do Victor Wooten, eu aprendi no estilo do Flea. Mas o jeito de tocar do Rocco realmente me tocou.
Já emendo com a sabedoria do Diego:
“Isso que ele falou é muito doido. Como o seu professor define o tipo de músico que você vira no futuro. Quando a gente começa, precisamos nos espelhar em algo, no caso, o nosso professor. É muito difícil sair das coisas que você aprendeu na primeira vez que abordou o instrumento. Vejo isso com o baixo. Eu comecei tocando violão, por isso a minha técnica de mão direita é mista (polegar, indicador, médio). Se eu tivesse começado no baixo direto, provavelmente seria técnica de dois dedos. Mas isso virou parte do meu estilo”.
Esse exemplo é universal. Durante a conversa, me peguei pensando nas primeiras vezes que fiz uma atividade. A gente sempre tem uma primeira referência, seja ela consciente ou não. Pode ser a primeira vez que você pensou naquela atividade, pode ser o seu primeiro professor, pode ser um misto dos dois. Lá pros idos de 1996, 1997, eu aprendi HTML sozinho. Mas só em 2001, no meu primeiro trabalho na finada agência Lazo, foi quando realmente me desenvolvi aprendendo com e sendo orientado por pessoas tipo o Fernando Norte e o Matheus Costa. (Talvez tenha sido a minha primeira experiência de aprendizagem social e “cultura de aprendizagem”, vejam só.)
Na bateria, sempre quis “fazer a banda andar”, sem aparecer muito. Uma abordagem rudimentar para o famoso groove. Pode ter sido o meu primeiro contato com a música e a bateria, como disse o Diego. Minhas aulas de bateria com o Glaydson e depois com o Arthur me ajudaram a achar mais técnica do que mudar a minha voz no instrumento. Ainda assim, me espelhei no Arthur para mudar a forma como montava a bateria e fiquei assim por muitos anos.
Existe uma forma de cortar essa amarra?
Independente de qual tenha sido sua primeira referência, manter a cabeça aberta é um desafio real. Porque se a forma como você exerce aquela função faz sentido e funciona, fica desconfortável buscar outros caminhos. Dentro da música, passei por esse desconforto na tal forma como montava meu kit. Agora, navego nesse desconforto tocando jazz. Para o Diego, a evolução musical é, de certa forma, a luta contra as amarras da primeira aula. “Você se tornar um músico completo significa aceitar ser desconfortável e depois conseguir transitar pelo desconforto e aí você pode escolher”.
O Herbie Hancock disse uma vez que “gosta de descobrir novas regras para que possa quebrá-las”. Essa frase vale para qualquer profissão: da música à osteopatia, passando pela arquitetura, engenharia, dança, jornalismo. É super importante se municiar da maior quantidade de informação que você conseguir. Pesquisar, estudar, experimentar, conversar com pessoas relevantes na sua área – famosas ou não -, buscar referências em outras áreas, ter a capacidade de criar conexões, buscar inspiração naquelas pessoas que você gosta e achar sua própria voz.
E quanto mais informação e recursos, melhor. O Diego gosta de fazer essa analogia com ferramentas. “Aquela velha da caixa de ferramenta que só tem uma chave de fenda, saca? Se você só trabalha apertando parafuso Philips tamanho 8, só precisa daquela ferramenta. Mas, vai que alguém te pede uma chave de fenda tamanho 12? Por isso, eu tento mostrar para o meu aluno como um determinado conceito é importante pra um monte de outras coisas, mesmo se nunca for usar aquilo ao vivo.”
Essa analogia é ótima porque confronta a ideia de que devemos “desaprender” as coisas erradas. Isso não existe. “Desaprender” é não saber que aquilo existe, o que te possibilita aprender de novo. Na verdade, precisamos saber as coisas erradas para não utilizá-las. E isso, de novo, remete à necessidade de mantermos a cabeça aberta. Não é fácil, mas é uma prática. E como diz o Victor Wooten (outro baixista que adoro), “praticar é uma forma detalhada de nos convencermos de que podemos fazer isso“.
Eu queria achar um conceito ou uma frase pra tentar explicar o que foi o meu 2019. Entre a Segunda Lei da Termodinâmica e “É uma trajetória baixa pra um horizonte distante” do treinador de crossfit Chuck Carswell, achei essa do Miles Davis:
“Cara, de vez em quando, demoramos muito para soarmos como nós mesmos”
Essa frase é genial, porque ela resume os outros dois conceitos que eu tinha imaginado pra esse texto. O meu ano de 2019 reuniu a desordem e a entropia máxima da Segunda Lei da Termodinâmica e o entendimento de que as coisas têm tempos certos para acontecerem. Foi o ano de conversas difíceis, que significaram rupturas imensas, recomeços e que me fizeram cavar fundo. Precisei buscar coisas que estavam escondidas dentro de mim e precisei me acostumar com lugares novos e situações diferentes.
“Porque quando você acaba nesse mundo, você sabe que o próximo é pra você”. Eu também adoro esse verso de Walt Grace’s Submarine Test, January 1967 do John Mayer. No dia a dia, o mundo que vivi por 12 anos se acabou. No trabalho, precisei me adaptar a situações novas. E é fácil dizer que tudo foi horrível e difícil, porque fazer o papel de vítima é sempre cômodo. Só que também fui responsável por essas decisões e, por isso, tive que crescer junto com a ocasião.
Nesse processo, caminhei pra achar minha voz. Profissionalmente, comecei a plantar muitas sementinhas que espero colher no futuro. Não foi um ano fácil para a 42formas, apesar de todo o esforço e trabalho. Nesses momentos, a maturidade pra entender os caminhos e os pontos de melhora foi fundamental. E acho que demos mais uns passos pra chegar onde queremos nos posicionar.
Ainda assim, produzi bastante. Fui mais uma vez pra Austin, tive a honra de dividir o palco no SXSW EDU com a D. Pilar – quem diria que eu iria conseguir trabalhar com minha mãe um dia – , falei sobre aprendizagem social, mediei painéis e discussões. Tive a alegria de poder rever os amigos da WorldSkills em Kazan e trabalhar num evento que eu sou completamente apaixonado. Conheci e conectei gente, comecei a ser reconhecido pelo trabalho que faço. O processo de sair da casca é assustador e fascinante ao mesmo tempo.
Mantive a minha sanidade com crossfit, música e análise. Esse tripé me segurou em grande parte do ano, entre as dores e as delícias do recomeço de uma vida. Todo mundo deveria fazer análise, por mais desconfortável que seja. Os tempos lógicos de Lacan ainda me pregam peças, fico super incomodado com as eventuais sessões de 15 minutos, mas cada chacoalhada me ajudou a chegar em conclusões interessantes. Entendo que não é um processo para se sentir em casa, mas me sinto mais seguro cada vez que entro e saio da sala da Dra. Sílvia.
Finalmente, o crossfit e as pessoas do crossfit. Esse foi um ano de desconforto na maioria do tempo. Ficava incomodado com a conjuntura da vida, com problemas pontuais de trabalho, com a vontade de fazer algo novo. E poder frequentar o Vila Madá além da hora do treino foi uma das soluções para aplacar um pouco desse incômodo.
Foram incontáveis as vezes que chegava pra treinar querendo explodir o mundo e, passada uma hora, as coisas estavam mais claras na cabeça. Também foram incontáveis as tardes que passei trabalhando lá, só para poder sair um pouco de casa. Ou as vezes que enrolava para ir embora só pra terminar de colocar as ideias no lugar. Entre treinos, cervejas, almoços e caminhadas pro metrô, pude conhecer muita gente legal, que quero manter por perto o quanto for possível.
Esse ano terminou completamente diferente do que eu havia imaginado. No processo de achar a minha voz, precisei me expor mais, mostrar as vulnerabilidades, achar ordem no caos. É uma jornada pessoal e que o único interessado sou eu. Mas não conseguiria sem pedir ajuda e desabafar. Por isso, eu sempre repito que a minha sorte é ser rodeado de pessoas ótimas. Família, amigos e amigas, meus professores, gente que me ajuda a ser melhor a cada dia.
Foi o ano mais desafiador da minha vida e que bom que tenho a maturidade pra enxergar dessa forma. Eu demorei pra entender o processo de achar a minha voz, agora é caminhar cada vez mais “soar como eu mesmo”. Tal qual o Miles Davis, espero um dia compor meu Kind of Blue.
Ironicamente, tentando vencer o silêncio e o bloqueio.
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Eu, fã declarado que sou, fiquei bem feliz quando li esse texto do Austin Kleon sobre gagueira. Traz uma boa reflexão sobre como a gagueira foi útil para pessoas tornarem-se melhores em seus ofícios. Em outro post, Austin fala que seu filho de seis anos gagueja e quando li isso, acabei lembrando da minha própria gagueira e de como foi um grande problema na minha vida, especialmente na infância.
Sim, eu sou gago. E tenho lembranças vivas da terceira ou da quarta série, o desespero quando eu precisava ler qualquer texto. Se você gagueja, sabe do que eu estou falando. A primeira sílaba da primeira palavra parece ser um obstáculo impossível de ser vencido. Se eu passava, ainda tinha todo o resto do texto. Tinha pavor absoluto de palavras que começassem com “S” e “P”, por exemplo. Eu não sei quanto tempo eu ficava lá no “s-s-s-serra” em “Escola da Serra”, devia ser menos de um segundo. Pra mim parecia uma hora. Tão perto e tão longe, mas o suficiente para ser sacaneado pelos colegas.
E acredite, ninguém gosta de parecer um disco arranhado. Ninguém.
O problema é que até entendermos todo o processo, vamos buscando formas de escapar, também em maior e menor escala. Na escola, a forma que encontrei foi me recolher e falar menos, especialmente em público. Conviver com um mundo que fala com eloquência é difícil para um gago. Você obviamente não quer se expor, você espera que as pessoas tenham paciência com o seu ritmo, o que não acontece sempre. Eu sei que muita gente não tenta adivinhar a palavra por mal, mas incomoda bastante.
– Pa-pa-pa…
– Pato!
– Patacoada!
– Patada!
A conversa não é uma rodada de Imagem e Ação e é feio invadir o espaço e o tempo das pessoas.
Pra mim, essa limitação trouxe alguns benefícios: aprender a ouvir e buscar sinônimos para as palavras que eu tinha dificuldade. É sobre isso que o Austin Kleon fala em seu post: achar a sua voz, o seu ritmo e também ouvir com mais atenção.
É bem verdade que esse silêncio durou muito tempo, pra ser sincero. Tinha alguns rompantes de falatório, tipo alguns programas de rádio que fiz durante a faculdade, mas no geral, falava pouco. Além do medo de estar falando bobagem, não queria fazer uma pergunta em uma palestra ou durante uma aula e gaguejar. Os traumas da quarta série tinham que ficar na quarta série.
A idade ajudou, a fonoaudiologia também. Hoje, eu não acho que a gagueira esteja curada, mas simplesmente aprendi a conviver com ela. Tem momentos que a frase está montada e represada na cabeça, sem ter como sair pela boca. Quando isso acontece, eu falo rápido demais. Quando acho que vou ficar engastalhado em uma palavra, faço o oposto, coloco vírgulas e pausas completamente fora do lugar. Acho que a segunda saída é mais elegante que a primeira, me ajuda bastante a vencer o medo de falar em público.
Quando estou conversando com outra pessoa que tem a mesma condição, dou espaço e tempo. De novo, se ela resolveu falar e mostrar essa vulnerabilidade, ninguém precisa adivinhar o que vai ser dito ou deixar a pessoa mais ansiosa para completar a frase.
Pra terminar, me me identifiquei também com esse artigo da Darcey Steinke para o The New York Times: “Minha gagueira me transformou em uma escritora melhor“. Não que eu escreva maravilhosamente bem, mas ser gago me ajudou a achar minha voz e entender quem eu sou.
Essa foi a minha terceira WorldSkills, a segunda sendo membro do Secretariado Estendido e pra mim, foi a melhor delas. Diferente de Abu Dhabi, já estava adaptado ao fuso horário, cheguei uns dois dias antes no local da competição e principalmente, estava em paz comigo mesmo. A experiência costuma ser uma coisa linda.
Novamente, é possível tirar várias lições dessa estrutura da WorldSkills, que sai de 21 para mais de 150 pessoas durante a competição. E como fazer isso da melhor forma possível?
Do lado da WorldSkills, imagino que seja um misto de planejamento e confiança. Esse processo começa uns oito meses antes da competição em si, com um processo seletivo. Você preenche um formulário falando da sua experiência, o que faz e quais funções gostaria de exercer. Nisso, são mais quatro meses até a definição das pessoas e das funções. Ou seja, você chega sabendo o que vai fazer. No entanto, é importante ter em mente que eventos são voláteis, incertos e tudo pode mudar.
Por isso, do lado de quem chega para ajudar, existem algumas regras de ouro. A primeira delas é ser uma pessoa legal. É um evento gigantesco e de tiro curto, vamos ficar juntos pouco mais de 10 dias e uma atitude positiva é fundamental. Ninguém tem tempo para melindres ou cara fechada.
(Pausa para um caso que se relaciona)
O Diego Mancini tem uma ótima história sobre quando estudava na Los Angeles College of Music e teve uma aula com o produtor do Lionel Richie. Ele foi perguntado sobre qual era o processo de escolha dos músicos para a turnê. E a seleção final era baseada em quem era mais gente boa e fácil de lidar. A justificativa foi algo como: “Nós já sabemos que as pessoas são boas no que elas fazem. Como vamos ficar juntos muito tempo, manter um clima bom é importante”.
(Pronto)
Esse ano, o time de Comunicação e Marketing estava maior, com vários amigos de outros carnavais e muita gente nova se juntando ao bonde. Esse é oficialmente um time de duas pessoas na WorldSkills International: Crispin Thorold, o diretor e Shawna Bourke, a gerente-sênior. Correndo o risco de errar os números, mas vamos lá, Em Kazan, fomos umas 40 pessoas de pelo menos 13 países. São várias funções: coordenação do escritório, coordenação da equipe de vídeo, coordenação do time de fotógrafos e tagueamento das fotos, redes sociais, imprensa, apoio para os patrocinadores e membros da WorldSkills, apoio à imprensa internacional, etc. São culturas, histórias e expectativas diferentes e você precisa entender isso, por isso é importante não complicar as relações.
A segunda regra de ouro é confiar no processo. As coisas mudam rápido, porque um evento desse exige ações rápidas. Então pode ser que você mude de função no meio do caminho, pode ser que você precise fazer algo que não planejava e isso faz parte do jogo.
Em Kazan, fiz um pouco de tudo, entre coisas que gosto e as coisas que tenho medo. Fiz um rabisco do planejamento de redes sociais do evento, a cobertura do programa de conferências, pude contribuir com algumas ideias e conceitos para alguns vídeos e, o mais legal, estar no Winner’s Circle, para onde os medalhistas vão para serem fotografados.
Os bastidores do Winner’s Circle.
O Winner’s Circle é a prova da sintonia no trabalho em equipe. Além do registro em si, essas fotos vão logo para as redes sociais da WorldSkills. O processo funciona dessa forma: os medalhistas eram recebidos pela Lisa Frizzell na saída do palco e conduzidos até o backdrop. Ali, o Jacob garantia a animação dos medalhistas, que eram fotografados pelo Himal Reece, cuja câmera estava conectada no meu computador. Eu editava, exportava a foto para uma pasta compartilhada com o time de redes sociais, comandado pela Jennifer Early, que publicava a foto.
Ainda vou escrever sobre o programa de conferências, que abordou alguns temas super relevantes, especialmente inclusão e diversidade e como as profissões e o ensino técnico e profissional podem ser agentes contra o aquecimento global. Nota: foi a primeira vez que ouvi falar do termo green skills. Eu e a Hayley Uffelman, nos dividimos entre as diversas sessões simultâneas para garantir fotos e tweets. Correria e conteúdo ao mesmo tempo.
Programa de Conferências da WorldSkills.
Um dos pontos altos foi a sessão com o astronauta Scott Kelly e o cosmonauta Sergei Krikalev, conduzida pela jornalista Lyse Doucet. Pensamos as coisas mais modernas e tecnológicas quando falamos da exploração espacial, mas os dois fizeram questão de reforçar que na Estação Espacial Internacional, você precisa das habilidades das profissões mais “triviais” como encanador e eletricista. Além das habilidades sociais que tanto falamos: resolução de problemas, trabalho em equipe e criatividade. De quebra, ainda consegui uma foto com o Scott Kelly.
O astronauta Scott Kelly e eu. 🙂
Por outro lado, precisei acompanhar o tour de imprensa pelo evento e fazer a distribuição de credenciais para as cerimônias de abertura e encerramento. São dois momentos tensos e onde você precisa dizer “não” com alguma frequência. E vocês sabem como eu odeio dizer “não”. De novo, é sempre uma questão de confiar no processo. Quando vi, estava tirando um cameraman de uma área proibida pra ele pela alça da mochila durante o tour.
Parte do tour com a imprensa. Momento de grande tensão nos preparativos da competição.
A terceira regra é estar aberto para conhecer pessoas. E quem está dizendo isso é uma pessoa introspectiva. No final de tudo, poder participar de um evento feito a WorldSkills é poder conhecer gente legal e aprender com elas.
Eu que tanto falo sobre aprendizagem social na 42formas, pude ver – de novo – como isso funciona na prática. Passa por um senso geral de companheirismo e transparência na equipe. É desejável que você fale o que está sentindo, se está tudo bem, se você precisa de algum suporte. Junte isso com a experiência que as pessoas trazem. Tem gente com seis, sete competições nas costas, como a Lisa Frizzell e o Maurice Hillier (dois ídolos desse que vos escreve) e tem gente que chegou agora para a sua primeira competição: Jennifer, Séan e Hayley, por exemplo. O que podemos aprender com essas pessoas e quais práticas a gente consegue levar pro nosso dia a dia e pro nosso trabalho? O bom que esses aprendizados podem acontecer tanto no escritório como nas cervejas após o expediente.
A gente costuma brincar que as competições são como colônias de férias, onde as pessoas se veem após um longo período e colocam as conversas em dia, se divertem, criam vínculos. Dessa vez, como estávamos hospedados no centro da cidade, pudemos beber e comer fora do Skill Out, o happy hour da competição, com roupas de “civis”, o que ajuda a desconectar dos dias longos de trabalho.
Parte do time de comunicação e marketing após a Cerimônia de Encerramento.
O mesmo pub de estimação, mas do lado de fora. 🙂
Dan, Lisa, Maurice e eu no lugar que servia sorvete vegano e café etíope.
Uma das várias cervejas no nosso pub de estimação.
Esgotamos todos os recursos dos vizinhos, a Triple IPA do bar de cervejas locais e o sorvete vegano de chocolate do café próximo ao hotel são bons exemplos, enquanto falávamos sobre trabalho, música, vida, política. É um grupo de pessoas que eu sou muito feliz de poder conhecer e dividir horas de trabalho e diversão juntos.
Desde 2015, a WorldSkills me ganhou no “oi”. Em 2019, continua me ganhando no “oi” e com a troca. Deixo um pouco de mim lá, ganho um tanto de volta.