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#41

41 anos completados hoje. E tal qual um dos primeiros versos da minha música preferida: “I’m coming slow but speeding” (ou, em tradução livre: “venho devagarzinho, mas acelerando”). Essa deve ser a terceira vez que menciono “#41”, música da Dave Matthews Band, aqui no blog. A primeira foi em 2003 e a segunda, em 2011. E há muitos anos, quando comecei a ouvi-la, pensava que deveria ser legal usar a música como tema do dia do aniversário de 41 anos. Obviamente, não fazia ideia de quantas vidas cabem em uma vida e, com isso, como o tempo pode mudar a intepretação das letras.

Dentro da transposição da vida para universo lírico, sinto que já “ganhei tempo em cima dos meus problemas”, já me perguntei “porque nunca fiquei orgulhoso?” e aprendi na marra a “correr para brincar na chuva e deixar as gotas (ou as lágrimas) escorrerem”. Porém, além da linha de bateria que sei de cor e salteada, também descobri que “estou seguindo nesse caminho e vou descobrir a saída para ele” e, por saída, entendam por “ir descobrindo o caminho”.

Eu estou em um bom lugar. E é desafiador e reconfortante escrever isso quando existem milhões de coisas passando pela cabeça.

O 41º ano trouxe muita coisa legal: uma cachorrinha, um casal de sobrinhos, um filho que está para nascer (e as dez mil palavras que já escrevi sobre isso não conseguem explicar todos os meus sentimentos), a contínua construção de uma história de amor e parceria, a certeza de estar rodeado de tanta gente amada.

Em uma rápida olhada nas fotos desse último ano, existe uma quantidade considerável de registros parecidos com esse que ilustra o post, que são fotos do meu reflexo. Escolhi essa feita em Nova York, em maio. Talvez, uma síntese do que foi o maior aprendizado do ciclo: olhar para mim mesmo, me entender, me enxergar com mais gentileza e me orgulhar da vida que estou construindo.

Ainda não estou onde quero estar, mas estou no caminho. Devagarzinho e acelerando. 😉

Feliz aniversário pra mim!

E essa é a versão mais linda de “#41”:

Um rápido olhar para trás

Estou na reta final do que é comumente chamado de inferno astral, distante apenas quatro dias de completar mais uma translação em torno do sol. Felizmente, não tive tempo de pensar nisso por um motivo lindo e óbvio, a chegada do Samuel nas próximas semanas.
Ainda assim, propus um novo olhar para uma atividade que gosto e dedico um tempo especial nesse período, que é plugar meu velho HD externo e olhar as pastas de fotos. Mais do que relembrar, queria fazer uma “leitura crítica” de algum registro que eu tenha amado fazer na época, daqueles que postava no Fotolog, o instagram de outrora. Essa “leitura” seria acompanhada de algum comentário autodepreciativo, possivelmente.
E em uma das possíveis pastas – o registro de almoço de aniversário de um tio querido, em novembro de 2004 – encontrei essa foto da Vovó Rachel. Fui pego no contrapé, porque não era a foto que procurava. Eu queria uma foto do por do sol, que não é tão legal feito essa.
Nesse dia, perguntei se podia fotografá-la e ela não só deixou, como se posicionou tal qual as fotos antigas e se dirigiu. Eu só apertei o botão, afinal não tinha a menor ideia de como orientar alguém nessa situação. São umas seis fotos dessa mulher incrível, no alto dos seus 78 anos e com uma história linda.
Quase duas décadas depois, celebro esse mini-ensaio, sorrio relembrando a gargalhada da vovó e penso que ela estaria feliz em ver o crescimento da sua prole de bisnetos. Eu estou feliz e já imagino as poses, ensaios e gargalhadas das vovós e dos vovôs do Samuel e do netinho que está para chegar.

Ainda Sem Nome, o legado

(Esse texto foi inspirado no que postei naquela rede profissional na semana passada. Está aqui de uma forma mais extensa)

Não imagino que seja algo fora do comum, mas uma das coisas que me orgulho na vida é ter trabalhado com gente boa de serviço e inspiradora. Em cada lugar que trabalhei, consigo puxar uma lista de pessoas que me inspira(ra)m. A primeira passagem na Lazo, de Dezembro de 2001 até Fevereiro de 2003, é um bom exemplo. Foi a minha primeira experiência profissional e a primeira vez que eu aprendi a conviver com várias pessoas em um ambiente diferente da escola.

E na lista dessas pessoas legais da Lazo, tem o Caio. Fomos colegas de produção HTML e CSS, ele foi um dos primeiros blogueiros que conheci e sempre gostei da forma que ele pensa o ofício da Comunicação. A amizade continuou mesmo com a minha saída da agência e, 12 anos atrás, ele me mandou um e-mail perguntando se eu topava fazer um podcast. O e-mail de resposta saiu quatro minutos depois do convite. “Uai, CC. Estou muito lisonjeado pelo convite, de verdade! Podemos fazer sim mesmo!”

Dessa conversa nasceu o Ainda Sem Nome. Esse título foi uma sugestão do Alexandre Estanislau e que foi prontamente aceita por nós dois. Produzimos 135 episódios em duas “temporadas” (2011-2013 e 2015-2017) com algumas pausas no meio, ocasionadas pelos compromissos acadêmicos do Caio, pela vida adulta e também pelo cansaço da produção.

Mais do que um espaço para falar de comunicação e conversar com uma porção de pessoas legais, o podcast me proporcionou momentos de muita experimentação e aprendizado, tanto na parte técnica: formato, pauta, produção, estudo e edição. Principalmente, aprendi e desenvolvi algumas habilidades “sociais”: perder a vergonha de mostrar o trabalho, achar meu tom de voz e meu espaço para falar; dar apoio e ser apoiado pelo Caio ao longo dos episódios. Foram várias, as oportunidades para praticar essas habilidades: gravamos online, presencialmente, fizemos edições ao vivo pelo finado Google Hangouts e também em cima do palco da FNAC em Belo Horizonte; deixamos conteúdos pré-produzidos.

Entrevistamos muita gente bacana como o Anderson Ramos, CEO da Flipside, na edição #135 e o Lito Sousa, do Aviões e Músicas, na edição #124. E tenho muito orgulho e carinho da pequena comunidade que se formou em torno do podcast: pessoas que comentavam, sugeriam pautas e davam valiosos feedbacks sobre o que produzíamos. Ganhamos até um presente: a logo que ilustra essa texto foi um mimo do Bruno Milagres, outro amigo e baita inspiração para esse escriba!

Na época da produção, todo esse conteúdo ficava em um domínio super descolado, o aindasemno.me. Com o fim do podcast, não renovamos o domínio. Agora, relembrando os seis anos do último episódio, o site foi republicado como um subdomínio do meu. Além disso, todos o conteúdo está no youtube, seja no canal oficial do Ainda Sem Nome ou na playlist feita pelo Caio. Aliás, ele também escreveu um texto super bacana sobre o podcast.

São maneiras de eternizar esse momento tão legal e que me faz coçar para voltar a produzir e compartilhar coisas nesse formato.

 

Manhattan vista do Edge.
Manhattan vista do Edge.

Para Nova York

Este é um registro um pouco mais extenso da viagem de férias, misturando coisas novas com o que já havia compartilhado no Instagram.

Foram nove dias em Nova York, de 13 a 21 de maio, vivendo a mistura curiosa do “tudo é novo” com “tudo é estranhamente familiar”. Afinal, estava visitando a cidade pela primeira vez e andei impressionado, com um sorriso bobo e a cara de “uau” no meio de referências e espaços presentes nas coisas que já vi, ouvi e li. Sinto que essa mistura do “novo” com o “familiar” pode ter aparecido quando saí do Brasil pela primeira vez, na viagem para Buenos Aires em 2003. Com certeza apareceu quando fui sozinho para a Europa, em 2006. A diferença principal é a quantidade de referências, pela cidade e na bagagem de vida. Nova York está em todo lugar: em discos, em filmes, podcasts, youtube, redes sociais e por aí vai. E tal qual as duas outras primeiras vezes, quis fotografar e anotar tudo que estava vendo e vivendo. O compartilhamento acaba sendo uma boa consequência.

Chegamos no hotel antes do horário do check-in, deixamos as malas na recepção e aproveitamos o tempo para achar um lugar para almoçar e começar a praticar a principal atividade da viagem: caminhar. Caminhar muito. A junção de prints do aplicativo Samsung Health não me deixa mentir. E logo de partida, o “ahhh” estava fixo nos meus pensamentos. “Ahhh, aqui é o Grand Central Terminal“, “ahhh, aqui é a Madison Avenue“.

Corte e junção das telas do aplicativo Samsung Health com a contagem de passos.

Depois do almoço, check-in, banho e um leve descanso, andamos mais uns 20 minutos até Times Square para mais uma sequência de “ahhh” para as cores, telões, anúncios e o contraste da quantidade de pessoas. Em um momento, estávamos andando no meio de uma multidão, tal qual qualquer centro das grandes cidades. Turistas, artistas, comerciantes, dezenas de carrinhos de comida (e queria experimentar todos eles!), trânsito, buzinas e afins. No entanto, quando dobramos uma esquina e andamos dois quarteirões, essa muvuca toda desapareceu e a minha atenção estava nos prédios, nas outras pessoas caminhando, nas cores da cidade.

A minha sorte foi conhecer a cidade com duas mulheres e guias incríveis: Carol e d. Pilar. Foram dias de mistura entre as experiências e visitas anteriores das duas, com a exploração e descobertas de novos lugares, o que me parece ser algo infinito em Nova York. Com elas, conheci o Guggenheim, a High Line, o Harlem, o Village Vanguard, o Central Park. Juntos, descobrimos o The Edge, a Columbia University, o Dumbo e outros lugares bacanas do Brooklyn.

E no domingo de Dia das Mães, fizemos essa foto que é linda e absolutamente simbólica: o 41º dia das mães da Dona Pilar, o primeiro da Carol. Apoiei o celular em uma grade, coloquei o timer em dez segundos e torci para o telefone não cair. Deu certo.

A foto do Dia das Mães no Central Park.

Uma coisa que imaginava e ainda bem que imaginei certo: Nova York é uma cidade que te obriga a olhar e registrar todos os lados. E antes da viagem, um dos meus dilemas era qual lente deveria engatar na minha Canon 5D II velha de guerra. E entre a 50mm, mais leve e menor, e a 24-105mm, maior, mais pesada e versátil, acabei optando pela segunda. Não me arrependi. Ela e o telefone celular tornaram-se a dupla perfeita.

A altura e diferentes revestimentos dos prédios, a movimentação das pessoas, as luzes e seus reflexos são um convite para as fotos. E andei bastante pela cidade com a câmera a tiracolo para fotografar tudo o que me saltava aos olhos. Me senti bastante seguro andando pela cidade com ela à mostra, que só voltava pra mochila dentro do metrô ou para uma melhor distribuição de peso. O celular era a opção para registros de improviso, locais apertados tipo o metrô e quando queria fotografar pessoas ou situações na rua. Falando nas pessoas, lembrei de uma mensagem trocada com o Carlos Hauck, amigo da faculdade, um dos meus mentores e inspirações na fotografia. A diversidade de pessoas é tanta, que eu tinha vontade de fazer fotos de todas elas. Naturalmente, me faltou coragem e penso que seria um pedido esquisito para o outro lado, então segurei a onda.

Várias caminhadas, diferentes pontos de vista: do metrô no subsolo ao 100º andar do The Edge, passando pela Highline, o parque linear e suspenso no meio da cidade; multidões e calmarias. Também experimentamos vários modais de transporte: metrô, ônibus, Toyotas Sienna na versão táxi e Lyft. E no modal carro, tive a experiência de dirigir de Manhattan até Woodbury, um centro de compras que fica a 70 quilômetros da cidade. Eu imaginava que o trânsito de Nova York seria barulhento, mas eu me enganei completamente. É dezenas de vezes pior.

Na hora que estávamos retirando o carro, perguntei ao agente da locadora se ele tinha alguma dica para o trânsito nova-iorquino. Na minha ingenuidade mineira, achava que ele iria falar para prestar atenção nas conversões à direita, que são livres, ou focar no fluxo do trânsito. Ledo engano.

Respire fundo“, foi a resposta dada de olhos fechados e seguida de um leve sorrido. Eu entendi porquê. Toda a raiva e frustração das pessoas que estão dirigindo é descontada na buzina, e elas não estão erradas. Buzinam para quem não acelera quando o sinal abre e a via está livre, buzinam para quem não respeita o sinal fechado e tranca o cruzamento – isso acontece toda hora – e também buzinam para o carro que não anda, mas sem saber que o carro não está andando porque o cruzamento está fechado. É uma sinfonia que toma as 24h do dia. Apesar das buzinas (aprendi com a Carol sobre como usar da forma local) e do prego gigantesco preso no pneu traseiro direito, deu tudo certo. E o vídeo abaixo, feito pela Carol, reflete já o momento de tranquilidade.

 

Naturalmente, um motivo de inspiração na viagem foi a arte, que está em todo lugar da cidade. Dos museus e galerias, passando pela música e as ruas.

No Guggenheim, o desenho do prédio e a exposição “A Year With Children”, que compõe o programa Learning Through Arts, promovido pelo museu dentro das escolas públicas da cidade. Um programa estruturado de artes para as crianças, que desenvolve a criatividade e a expressão por meio da exploração de processos, materiais e técnicas artísticas. Me identifiquei em algumas das criações e expressões e fiquei motivado a escrever um texto exclusivo para tudo isso. (Nota: está na fila.)

No MET, meus olhos estavam focados no cachorro-quente da porta do museu, na exposição do Richard Avedon e suas impressões gigantescas e na esfinge. Tal qual o British Museum em Londres, me fez questionar também as relações de poder e o quantos artefatos foram pilhados e roubados dos seus lugares de origem.

No histórico Village Vanguard, ouvimos a orquestra de jazz residente das segundas-feiras. Ouvi falar do local há uns dois anos, quando descobri esse disco do Christian McBride Trio. Quando comentei com a Carol, ela disse que conhecia e mencionou a escadinha que descemos para entrar no salão. E fiquei emocionado ao descer a escadinha, sentar em uma mesinha acanhada do salão apertado e estar, nas palavra de John Riley – baterista da orquestra -, “no local onde Miles, Coltrane, Sonny Rollins e tantos outros tocaram e gravaram“.

E finalmente nas ruas, seja de maneira explícita feito as instalações na Park Avenue, ao lado do nosso hotel; ou o mural do Kobra no Brooklyn. E na própria arquitetura e urbanismo da cidade, quando “buscamos” nas composições e contrastes dos prédios e ou vemos a cidade no 100° andar do The Edge.

Nove dias não foram suficientes para entender toda a cidade e as 1.500 palavras também não foram suficientes para falar de toda essa experiência. Deixei muita coisa para trás e a todo momento, fantasiei, observei e enumerei as coisas que quero fazer na(s) próxima(s) visita(s): ver o Flatiron depois da reforma, entrar no Apollo Theater, escutar mais jazz no Village Vanguard, explorar mais o Brooklyn e Manhattan e a lista vai e vai. O legal é saber que a próxima viagem, seja para Nova York ou qualquer outro lugar, será mais especial porque terei meu filho junto comigo. Quero apresentar e conhecer tantos outros lugares do mundo com ele.

Conclusões e reflexos que qualquer viagem proporciona: olhar pra fora para entender o mundo, entender as pessoas. Olhar para dentro e entender os próprios sentimentos, fazer planos, se conhecer melhor e se expressar melhor.

Seguimos!


Links para os posts do instagram: 14/05, 16/05,18/05, 19/05, 20/05 e 21/05. (Bônus: 01/06)

Link para a minha playlist de maio/2023.

"The rain that launches the sands of the Sahara onto the cars in Rome"
"The rain that launches the sands of the Sahara onto the cars in Rome"

Explorando o Midjourney e uma saída para o bloqueio criativo

A foto que ilustra esse post foi gerada por inteligência artificial. Traduzi a primeira estrofe de “Reconvexo“, uma das minhas músicas preferidas de Caetano Veloso, fiz o prompt no Midjourney e o resultado foi esse que você confere logo abaixo. Essa brincadeira, jogar trechos de letras e esperar o resultado, tem sido a saída que encontrei para (tentar) vencer o bloqueio criativo que tem me acometido há uns dois meses. Já explico.

the rain that launches the sands of the Sahara onto the cars in Rome, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

Uma coisa conectando com a outra. Desde a volta do SXSW Edu, mal consegui compartilhar o que vi e vivenciei na conferência. Tirando as conversas, uma apresentação de 20 minutos que fiz no trabalho e um pequeno evento no Learning Village, todas as anotações, pensamentos e conexões de ideias têm morado na minha cabeça, em uma pasta do Google Drive e no meu caderninho.

Seria fácil afirmar que as razões para esse “silêncio” seriam somente a carga de trabalho e as constantes descobertas e atribuições da vida adulta, aquela que está em constante mudança. Misturado com isso tudo, entram as razões principais: o bloqueio criativo e um sentimento (bobo) de que não estarei adicionando nenhuma novidade ao repertório e/ou a curiosidade das pessoas com o que tenho para compartilhar. Se a “constante mudança” me faz andar pra frente, as duas últimas razões me fazem ficar parado.

 

Pausa.

 

Além de uma crença reforçada na criatividade como habilidade fundamental para hoje e sempre, voltei do SXSW Edu com a vontade (e necessidade) de entender mais sobre a famigerada Inteligência Artificial Generativa e seus impactos nos ambientes de aprendizagem. Dediquei algumas horas de leitura, estudo e testes no ChatGPT, fiz uma assinatura básica do Midjourney e fui explorando. Uma exploração solitária diga-se de passagem, sem a ideia de como compartilhar algo estruturado e bem-feito com as pessoas, fora algumas imagens bobinhas que publicava em meus stories.

Até que um dia, andando pelos mesmos stories, passei pela história dessa carta do escritor Kurt Vonnegut. Em 2006, ele escreveu para cinco alunos da Xavier High School, de Nova York, em resposta ao pedido de visita à escola. O trecho abaixo é o motivo desse post:

(…) O que eu tinha para lhe dizer, além disso, não levaria muito tempo, a saber: pratique qualquer arte, música, canto, dança, atuação, desenho, pintura, escultura, poesia, ficção, ensaios, reportagens, não importa quão bem ou mal, não para obter dinheiro e fama, mas para experimentar se tornar, descobrir o que há dentro de você, fazer sua alma crescer.

 

Pensei comigo há quanto tempo tenho me privado da experimentação e exploração nas artes visuais (a fotografia, para ser específico) e na escrita, para “descobrir o que há em mim e fazer a alma crescer”. Tenho praticado pouco e editado menos ainda. E quando faço, era com a obrigação de acertar e fazer bem-feito, o que me limita tremendamente. A carta serviu de inspiração e nessa, resolvi testar uma abordagem diferente no Midjourney, a ferramenta de inteligência artificial generativa que cria imagens a partir de entradas de texto.

Depois de gerar dezenas de imagens bobinhas: cachorros em forma de balão, diagramas e infográficos de escolas, a fusão de duas fotos em uma e coisas do tipo, fiz o que está registrado na abertura do texto. Coloquei pequenos trechos de músicas que gosto e esperei o resultado. A única direção que dei foi em relação à saída: queria que parecesse uma fotografia, não uma ilustração, diagrama, colagem ou algo parecido. Me conectei de várias formas: as letras fazem sentido para mim, a música e a fotografia sempre foram formas de expressão, é divertido experimentar. Não fui atrás das artes mais bonitas. Queria entender a ferramenta, explorar as possibilidades, praticar o pensamento criativo e, na mistura das artes, me entender um pouco mais também. Os resultados você vê agora. 🙂

 

“Ants Marching” – Dave Matthews Band – Spotify

“And remembers being small
Playing under the table and dreaming”

Prompt: and remembers being small playing under the table and dreaming, shot on canon 5d Mark IV, modern mood

 

“Be (Intro)” – Common – Spotify

“Explored the world to return to where my soul begun
Never looking back, or too far in front of me
The present is a gift, and I just wanna be”

Explored the world to return to where my soul begun Never looking back or too far in front of me The present is a gift And I just wanna BE, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

 

1999 – Prince – Spotify

“I don’t wanna die
I’d rather dance my life away”

I don’t wanna die I’d rather dance my life away, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

 

“Palco” – Gilberto Gil – Spotify

“Minha aura clara, só quem é clarividente pode ver”

My clear aura can only be seen by those who are clairvoyant, shot on Canon 5D Mark IV, modern mood

 

Coloquei as imagens na ordem em que foram geradas, porque imagino que exista um padrão dentro da ferramenta. Afinal, a primeira imagem foi a da menininha embaixo da mesa e todas as seguintes saíram também com mulheres. O legal é testar pequenas mudanças no prompt e ter imagens completamente diferentes ainda utilizando o mesmo trecho da letra. Um bom exercício futuro: “personificar” as letras com caraterísticas da pessoa que escreveu e/ou interpretou.

 

Para fechar

Brincar com o Midjourney tem sido uma saída interessante para vencer esse bloqueio criativo. Testar prompts só por testar, sem a preocupação com qualidade ou significado tem ajudado na estruturação das ideias e na vontade de compartilhá-las. Me sinto estimulado a escrever, fotografar e… desenhar. Eu sou um péssimo desenhista, e agora, instigado com as possibilidades de geração de imagens, fico rabiscando e tentando traduzir esses rabiscos para o prompt do Midjourney. É o que disse no começo do texto: a curiosidade e a criatividade são habilidades fundamentais para esses tempos.

Assim como o lado “sério” da pesquisa. Continuar os estudos sobre possibilidades, limitações, questões éticas e de propriedade intelectual da inteligência artificial. Mas isso é tema para outras conversas.

 


 

A troca com algumas pessoas estimulou esse post. Obrigado, Carol, Natalia, Gabriel Albuquerque, Fabio Boehl e Walter Romano!

Sobre Legos e construções

Na noite de sábado, terminei a montagem da Eagle, o Módulo Lunar da Apollo 11, kit da Lego que foi o presente de Natal da Carol e que precisei dedicar algumas horas ao longo da semana. É o terceiro kit que ganhei de presente no último ano. O primeiro foi um Mclaren Elva, dado pela Tutu no natal do ano passado. Depois, esse Cosmic Cardboard Adventures (“Aventuras Cósmicas de Papelão”, em tradução livre), uma lembrança do Lee Magpili, designer da própria Lego, às pessoas que trabalharam na curadoria do Seminário SESI, em maio de 2022. Agora, foi a vez do Módulo Lunar.

Ao montar a Mclaren, fiquei impressionado com a quantidade de peças novas – em formatos e tamanhos – e também lembrando de como o Lego tem um espaço muito importante na minha infância, fisicamente e criativamente. No primeiro ponto, o meu quarto era meu mundo de Lego. Guardava todas as minhas peças em uma caixa de papelão que originalmente foi a embalagem para uma televisão de tubo de 29 polegadas. Imaginem o tamanho. Metade da caixa cheia de pecinhas, sem nenhuma organização. Achar peças era uma tarefa hercúlea. A busca por um tijolinho azul de 1×1 no meio de tantas peças maiores ou quatro rodas iguais demandava tempo e também abria espaço para a criatividade.

Mclaren Elva

Afinal, eu seguia a regra não escrita – que julgo ser universal –  de montar para desmontar. Na primeira vez, construía o kit utilizando o manual de instruções, celebrava o feito e desmontava a construção, jogando as peças dentro da caixa de TV. A partir dali, tal qual as “Aventuras de Papelão”, eu fazia as minhas histórias.

And remembers being small / Playing under the table and dreaming

E (ele) lembra ser pequeno / Brincando embaixo da mesa e sonhando

Lembrei desse trecho de “Ants Marching”, da Dave Matthews Band, enquanto montava o segundo kit: um quarto de criança com uma nave de papelão. Me vi com 10, 12 anos de idade naquele personagem, criando mundos, veículos, prédios e histórias. Não me importava lembrar a origem das pecinhas. Eu gostava de saber o que poderia fazer com elas. As peças vermelhas de Lego poderiam compor um grande quartel do Corpo de Bombeiros, com suas viaturas, pessoas e chamados de socorro. O cavalo do kit medieval agora morava em uma fazenda, O avião poderia virar uma nave espacial, ou ser um motor para carros. E eu pensava que, tivesse o tamanho de um bonequinho de Lego, entraria na nave, viajaria o mundo e conheceria outros planetas.

Cosmic Cardboard Adventures

Natália também brincava, e eventualmente, nossos primos também se juntavam. Quando isso acontecia, além da criatividade e das habilidades motoras, era preciso praticar a colaboração, a comunicação e eventualmente, um pouco de negociação.

Eu cresci e a grande caixa de Lego seguiu seu rumo, indo para meus primos mais novos. O carinho e interesse continuavam morando aqui comigo, mas as prioridades eram outras. Sempre solto um “ó!” e dou um sorriso quando vejo o Lego sendo usado em outros contextos: exercícios escolares, rotinas de check-ins em eventos e quando há intenção de desenvolver habilidades socioemocionais em adultos: criatividade e pensamento crítico, por exemplo.

Módulo Lunar Eagle

Por isso, ganhar e montar o Módulo Lunar foi um presentão carinhoso para completar esse círculo afetivo. Para um “montador da velha guarda”, esse é o kit mais sofisticado já montado. Para um apaixonado pela exploração espacial, é cheio de significados.

Um pouco mais metódico na construção, ainda muito impressionado com as peças novas e, tal qual antigamente, compartilhava o progresso da construção, do “Mar da Tranquilidade” até a última pecinha do estágio de ascensão, com a Carol. No processo, também um mar de lembranças: a minha visita ao Museu dos Cosmonautas em Moscou, trechos da letra de “Satellite”, da minha tentativa frustrada de fotografar a lua em 20 de julho de 2019, data do cinquentenário do pouso da Apollo 11. Em um recorte simplista e ingênuo, fiquei elucubrando também sobre criatividade, comunicação, curiosidade, resolução de problemas foram (e continuam) importantes para entendermos a lua, nosso sistema solar e além.

Aos 12 anos, na minha junção de pecinhas, devo ter construído uma nave espacial que levaria um bonequinho de Lego também para a lua, o sistema solar e além. E possivelmente, seria legal desmontar e construir outras coisas, mas não será o caso. Vou contemplar a Mclaren, a criança em uma caixa de papelão e o Módulo Lunar e, para além do Lego, continuar carregando (e praticando) as conexões pouco prováveis e a liberdade criativa para construir coisas novas.

2022 em 1982 palavras

Um emaranhado de ideias, fotos e links sobre 2022, um ano bom na soma de descobertas, avanços, bloqueios, anseios e crescimento. Se quiser ir direto para as reflexões, clique aqui. Você pode aproveitar para ler algo que faltou no ano passado, um apanhado dos meses.

Janeiro começou quietinho, num jantar de réveillon meu e da Carol na comuna entre Nova Lima e Itabirito. Uma semana depois, o primeiro grande evento familiar, o casamento da Bia e do Carlos. No lado profissional, casa nova, gente nova e os primeiros trabalhos do Centro Lemann. Um grande caminho de suposições, interrogações e a curiosidade mútua de explorar e descobrir as possibilidades que eram aventadas no Programa de Formação.

No Linkedin, usei um trecho de “Two Beats Ahead” para descrever as duas semanas de integração: “Para nós, o desafio como colaboradores criativos é duplo: primeiro, estarmos confiantes com nossas habilidades de modo que as outras pessoas possam nos chamar e usá-las. Segundo, estarmos curiosos sobre as outras pessoas, para que possamos criar coisas incríveis, com visão e propósito compartilhados“.

Fevereiro veio com um teste positivo de Covid. As duas doses de Astrazeneca ajudaram a minimizar bastante a doença. Mais pra frente, os exames e consultas de rotina da cirurgia do ano passado, tudo para continuarmos sabendo o que acontece e é visível aos olhos dentro dessa cabecinha. Mais um trimestre vencido. ”Alterações decorrentes do procedimento” e nenhum sinal de tumor. Depois da ressonância magnética, perguntei ao radiologista sobre o que era possível fazer com os dados gerados pela máquina, para além das folhas e folhas de imagens impressas. A resposta foi a imagem abaixo, toda feita com os dados gerados nos meus 25 minutos trimestrais de claustrofobia. “Cabeça”, o apelido de infância, surgiu com embasamento factual.

A minha cabecinha aos olhos da máquina de ressonância magnética,

Março foi um mês cheio. Teve o retorno à Austin para o SXSW e como foi bom rever a cidade que sempre me faz bem. Em 2022, com coloridos especiais: a presença da Carol e o nosso meet-up sobre as dificuldades, redes de apoio e descobertas quando passamos por momentos difíceis de saúde. De lá, ainda fiz algumas reuniões de trabalho, aproveitando as primeiras horas do Centro de Convenções ou a cozinha do Firehouse Hostel. Na volta ao Brasil, fizemos as sessões online de abertura do Programa de Formação de Lideranças e foi lindo ver a ideia se transformando em algo real.

Austin – Mar/2022 – Foto feita na Brazos St. por uma pessoa solícita,

Nota engraçadinha do mês: Eram 7h30 da manhã, e saindo da cozinha do hostel, reconheço um cara que também se hospedava no finado Drifter Jack’s Hostel. Na conversa, quando contei que trabalhava com Educação, o sujeito – que é da Califórnia – olha pra mim e fala: “Rapaz, li um livro que explodiu minha cabeça. Chama-se ‘Pedagogia do Oprimido’… Paulo Freire, eu amo esse cara!” Fui embora com um largo sorriso no rosto.

Em Abril, juntei papéis para o casamento, eu e Carol marcamos a data e demos início à entrega dos convites. A família se juntou em BH para os 70 anos da tia Salete; eu e Carol ficamos presos na estrada na volta para São Paulo. Foi também o momento de retomar os ensaios da prática de banda após dois anos de afastamento por conta da pandemia.

Um salto profissional importante: escrever uma matéria para a Época Negócios e me sentir honrado e assustado. Por um lado, foi muito legal começar a aparecer em um espaço importante e que quero ocupar. Por outro lado, o medo e o bloqueio criativo (e crítico) – resquícios de um outro Felipe – me jogaram num canto que tive dificuldades para sair.

Maio recheado. Voltando de ônibus para São Paulo, vejo uma mensagem da Natália na lista da família sobre o 3 de maio do ano passado, data da minha primeira cirurgia. A resposta para ela virou um post sobre o primeiro ano da minha vida nova. Dias antes, descobri que seria titio e precisei fazer um véu de segredo. Em um sábado de manhã, eu e Carol colocamos umas roupas bonitas, fomos ao cartório e nos casamos, cercados pela família. Um dia gostoso e que serviu de prévia para o mês seguinte. No final do mês, ajudei D. Pilar e Cida na curadoria de um seminário de educação para o SESI Nacional. Uma honra poder colocar a cabeça para trabalhar ao lado de duas mulheres tão poderosas e que servem de referência para mim, que cresci filho e sobrinho.

Na tarde do dia 11 de Junho, uma porção de gente se reuniu em Belo Horizonte e entrou em nosso bonde de celebração e emoção da festa de casamento. Começou de tarde, na Igreja do São Bento, passou pela Casa Bernardi e terminou n’A Obra. Nesse meio tempo, beijos, abraços, choro e muita dança, naqueles momentos que ficam marcados para sempre na vida. “Eu queria morar naquela festa”, foi o que ouvimos de algumas pessoas. Nós também.

Um mulherão desses, bicho. Foto da Ana Slika.

Fomos para o Uruguai na lua de mel, onde bebemos vinho, fizemos um vídeo que é um meme e pensamos que Colônia do Sacramento deve ser um bom lugar para morar na aposentadoria. Na minha ignorância sobre o país vizinho, comemorei quando pedi uma garrafa de água do jeito certo, “Tienes una botella de agua?“. Em seguida, ferrei tudo porque falei “la major” ao invés de “más grande”.

Pousamos em São Paulo, eu troquei a mala e fui para Goiânia e também para Belém do Pará, facilitando as primeiras formações presenciais do Centro Lemann. Ouvi bem mais do que falei, aproveitando para conhecer as lideranças educacionais participantes do programa e saber como melhorar a experiência de aprendizagem digital para essas pessoas. Me “reverenciei” quando percebi que estava fazendo uma sessão de facilitação para lideranças educacionais. As horas de avião me ajudaram a conectar as ideias do Victor Wooten e do Steve Jordan às minhas.

Julho foi composto pelo planejamento estratégico do Centro Lemann no interior de São Paulo, o aniversário de um ano do GuiGui, sobrinho da Carol e “meu” também, e os primeiros ensaios com a banda do Julio Taubkin para tocar em um casamento em setembro. Eventualmente, descobrimos que nossa participação foi cancelada, o que foi uma pena. Celebrei a chance de tocar com gente nova e me “expor” mais. Lembrei desse tweet do Antonio Sanchez: “Tocar numa banda é um dos melhores exercícios de democracia”.

Completei 40 anos em Agosto. Isso foi motivo de uma crise existencial, de reflexão e de um longo texto sobre o tema que não foi publicado. E nem sei se faz sentido publicá-lo. Foi motivo também de uma festinha pequena no salão de festas do prédio, onde celebrei cercado de tanta gente legal. Stellinha, a whippet, nasceu. No final do mês, mais um “excelente resultado” na ressonância magnética e o casamento da Fernanda e do Gustavo, meus cunhados.

Em Setembro, para ser titio de um casal de gêmeos, são necessários dois chás de bebês e foi isso o que aconteceu. Um em São Paulo, outro em Belo Horizonte, onde aproveitamos para celebrar os aniversários dos pais. O bom sentimento de aproveitar o presente e celebrar as novas chegadas.

Outubro nos brindou com o desafio físico, emocional e mental de sobreviver às eleições presidenciais. De longe, a mais importante na minha vida e a que mais me emocionou, quando ouvi o som de confirmação do voto. O primeiro domingo do mês começou bem, com saída para votar, almoçar e caminhar. Terminou com um sentimento de prato indigesto e de ansiedade, que só foi acabar junto com o segundo turno. O alívio de saber que uma parcela considerável do bairro também celebrou a virada na apuração. Nesse meio tempo, Stellinha, a whippet, foi para casa e agora somos três.

A cã e o voto.

Novembro tem 30 dias. Passei 16 deles fora de casa, fazendo a segunda rodada das formações presenciais do Centro Lemann em Sobral (CE), Joinville (SC) e Ponta Grossa (PR). Entre as pernas de trabalho, uma viagem em cima da hora para Belo Horizonte, por conta do nascimento da Aurora e do Ravi. No domingo, 13, ligamos para a Natália às 10h da manhã para saber como ela estava. “Tudo bem, mais tarde vamos ao show do Milton”. Às 18h, papai me liga dizendo que Natália já estava na maternidade para ter as crianças. Eu e Carol juntamos tudo e saímos na segunda, 14. Debaixo de um temporal na Fernão Dias, descobri que Carol é praticamente o Ayrton Senna, dada sua habilidade para dirigir sob dilúvio. Mês das boas surpresas.

Finalmente, Dezembro, que começou no Ceará, com o Encontro de Prefeitos e Prefeitas promovido Centro Lemann e o planejamento estratégico para 2023. Depois, Belo Horizonte para poder conhecer e tocar meu sobrinho e minha sobrinha, descobrir novas coisas, ouvir, após a última rodada de ressonância magnética e consultas, que estou (ou continuo) “1000%” e poder celebrar Natal e Ano Novo.


Ao ponto

Que ano! Além das anotações espalhadas em caderninho e conversas de whatsapp, recorri ao Google Fotos – minha outra ferramenta de registro – e às postagens de Linkedin e Instagram para compor essa retrospectiva. Um ano bom, de muito crescimento, onde vivi e fiz muita coisa.

O grande ponto de atenção foi fazer a má interpretação dessa quantidade de experiências novas e, com isso, perder o controle emocional em alguns momentos. Voltava ao velho pensamento “o que estou provando?” ou aplicava a expressão “na força do ódio” de forma literal. Era aí que o bloqueio criativo e crítico apareciam. Quando pensava que o “provar” tinha a ver com “provação”, com a eterna comparação com as outras pessoas e o “provar algo para alguém”. E, como disse a Carol em uma das nossas boas e ricas conversas, “Você não cresce na força do ódio”.

Demorei para perceber que essa “prova” tem muito mais a ver com degustação e experimentação. No fechamento do ano, aplicando essa visão da “degustação” dessa quantidade de experiências, traz ingredientes importantes para vencer esse bloqueio: Coragem, cabeça aberta, saber ouvir e estar presente, mais foco… Além de duas cartinhas do “Baralho de Estratégias Oblíquas” como mantra:

 

Tenho objetivos e planos menores, que servirão de suporte para a grande meta de 2023 e além. Para isso, quero centralizar as ideias e pensamentos nesse espaço, continuar perdendo o medo de mostrar o trabalho, pegar mais leve comigo mesmo e manter a cabeça aberta. Afinal, “o velho e novo fazem a urdidura e a trama de cada momento. Não há fio que não seja uma torção desses dois aspectos“.

Termino 2022 com um sentimento enorme de agradecimento: pelo fato de estar vivo, estar bem e cercado de pessoas maravilhosas. Não há um dia que não penso no diagnóstico e cirurgias do ano passado, e como a vida é um sopro. Na minha cabeça, os períodos de controle clínico compostos de ressonância magnética e consulta com o oncologista, são “arcos trimestrais”. Cada vez que saio da consulta, penso que venci mais um arco. E foram quatro vitórias esse ano. Com muito carinho, penso também nas pessoas que conheci e que passaram ou passam pela situação de um tumor cerebral. Sigo desejando o melhor e aprendendo bastante com elas.

Acredito que 2023 será um ano melhor, no âmbito pessoal, profissional e no cenário macro também. E a jornada só fica mais fácil pelas pessoas que a vida me presenteou. Com a construção em conjunto com a Carol, uma mulher incrível, forte e de coração gigante. Ganhei uma nova família e fui acolhido por ela. Com o novo papel de titio, cortesia da Natália e do Lulu. Com o constante apoio, conversas e carinho do Leo e da D. Pilar, além dos meus tios, tias, primos, primas, amigos e amigas. Obrigado, obrigado, obrigado!

Que sigamos com a coragem de provar, experimentar e ir se descobrindo. Feliz ano novo!


Mantendo a tradição de 2020, esta é minha playlist de 2022:

 

Um brinde ao Vettel

Acompanho, mas não escrevo tanto sobre automobilismo e Fórmula 1. Talvez devesse fazer mais vezes.

São tantos anos acompanhando as corridas, lendo notícias e se acostumando com as pessoas envolvidas, que muitas vezes esqueço que elas se aposentarão um dia. E foi por isso que ontem, 28/07, fiquei particularmente tocado com o anúncio de aposentadoria do Sebastian Vettel. Aos 35 anos, o tetracampeão mundial de Fórmula 1 achou que existem coisas mais importantes a serem feitas: estar próximo da família, tocar outras coisas, sair de um ambiente profissional que consome grande parte do seu tempo.

O vídeo do anúncio é bonito e foi ele que me motivou a escrever esse texto.

Alguns trechos do vídeo me deram vontade de sentar com o Sebastian para conversar. Poxa, cara, eu também gosto de chocolate, adoro o cheio de pão fresco de manhã, também “sou curioso e fascinado por pessoas apaixonadas e habilidosas”. A pergunta é genuína: como o Vettel se interessa por essas pessoas e pelas habilidades alheias? Pergunto porque o ambiente da Fórmula 1, além de consumir grande parte do tempo de um piloto, parece ter sido desenhado para estimular o deslumbre. Um pulo e a pessoa deve achar que o mundo gira em torno dela.

Como o Vettel se manteve atento ao que acontece ao seu redor? Como ele achou tempo para continuar se fascinando com pessoas habilidosas, e digo além daquelas que compõem as equipes? Vamos falar de marcenaria, fotografia, abelhas, música? Sinto que teríamos assuntos para um longo papo sobre curiosidade e interesses diversos.

Naturalmente, puxaria uma cadeira para Lewis Hamilton sentar junto, por essa frase: “Na parte de corrida, ele (Vettel) é incrivelmente rápido, muito inteligente, muito bom engenheiro, muito preciso na pista” e também pela curiosidade e o desejo de usar a voz e imagem para impactar o mundo muito além do automobilismo.

(Nota paralela: nessa hipotética mesa de bar, eu seria honesto e falaria que ambos passaram pelo mesmo ciclo na minha cabeça: “Nossa, um piloto novo que parece ser interessante!” > “Ele ganhou uma corrida!” > “Tá bom, você já está ganhando (e reclamando) demais!”  > “Estou vendo a história sendo escrita” > “Vai ser triste quando esse cara aposentar!”)

Dei ênfase ao “muito bom engenheiro”, porque fico curioso com as estratégias de comunicação entre pilotos e o time de engenharia. Vi uma entrevista do Hamilton num evento da HSM em 2017, aqui em São Paulo. Se tivesse um momento de perguntas e respostas, a minha estava engatilhada: “como falar e entender ‘engenheirês’ sem ser um engenheiro?”

Hoje, estenderia a discussão para essa questão de olhar para além dos muros da Fórmula 1. Ter posicionamentos políticos, ideológicos e éticos que condizem com a vontade de fazer a sociedade mais justa, amplificar a voz de pessoas marginalizadas. Seria uma boa conversa.

Finalmente, perguntaria para Hamilton o quanto ele vai sentir saudades do Sebastian.

Porque eu vou sentir. 🙂

Foto feita pela Carol durante a lua de mel.
Foto feita pela Carol durante a lua de mel.

Expressão

Duas entrevistas dispararam caixas de fogos de artifício na minha cabeça. Figurativamente.

Acompanho o trabalho do guitarrista Cory Wong há pouco tempo. Conheci ouvindo seu disco “Motivational Music for the Syncopated Soul“, que acabou sendo trilha sonora de grande parte da minha viagem para a WorldSkills Kazan, em 2019. Acho bem interessante a sua capacidade criativa e as empreitadas para além da música, algo que parece comum nos artistas de hoje. Cory faz um programa de variedades em seu canal no youtube, tem um podcast e é um bom entrevistador.

E duas entrevistas que ouvi no Wong Notes, o seu podcast, ajudaram a abrir a caixa de ideias e reflexões sobre aspectos pessoais e profissionais, tipo a quebra do muro do bloqueio criativo e da autocensura. Falo aqui das conversas com Victor Wooten e Steve Jordan, duas referências para esse que vos escreve. Um passeio sobre música, obviamente, mas também sobre identidade, aprendizagem, colaboração e liderança.

Dá para refletir sobre todos esses aspectos. Resolvi começar com a questão da identidade, ou como mostrá-la por meio da arte. Faz ligação direta com a minha realidade, pensando nas duas artes onde mais me expresso, fotografia e música, e transborda também para a parte profissional. Wooten e Jordan dizem que muitas vezes, damos mais peso à ideia de aprender um instrumento e emular alguém, quando deveríamos aprender a nos expressar.

Liguei os pontos e percebi que me expresso melhor fotografando do que tocando bateria, mesmo com similaridades nos pontos fortes e fracos. Nos pontos fortes, parto do mesmo lugar, a curiosidade. Me interessei pelo meio, estudo, pratico, troco experiências com muita gente e coleto a maior quantidade de referências possíveis. Nesse processo, vou criando repertório e selecionando aquilo que reflete a minha linguagem, quem eu sou e o que quero expressar. E fico nesse espírito quando estou atrás da câmera. Não fotografo pensando nas coisas que o David Burnett, o Pete Souza ou o Carlos Hauck fariam no lugar. Na imensa maioria das vezes estou em um papel passivo, registro pessoas caminhando, um panorama, tento achar simetrias. Observo.

Tocando bateria, fico confortável interagindo com as pessoas no estúdio/palco, criando espaço, dando suporte e fazendo as pessoas dançarem. Porém ainda há o desconforto em determinados momentos, especialmente quando estou tocando músicas pela primeira vez ou na hora dos solos. Não raro, penso que preciso tocar feito a gravação ou que “seria legal fazer aquilo que o Steve Jordan, o Carter Beauford ou o Arthur Rezende fazem”. Muito mais em um sentido de caminho seguro do que “pegar essas influências e fazer o meu som”. Já foi muito pior e ainda tem muito espaço para estar na categoria “aceitável”.

Tem a ver com o medo de “aparecer demais”, “incomodar as outras pessoas”, “não soar interessante”. Esse conjunto de sentimentos não está restrito à música. Isso aparece também na fotografia, porque sou tímido para dirigir pessoas. Recentemente, também fiz essa conexão com a vida profissional, partindo de uma observação feita por uma colega de trabalho que acompanhava uma facilitação que eu conduzia. “Felipe, na hora de pedir silêncio, pode falar alto”. Eu comentei que ainda estava tímido, por isso falava “Pessoal!” e esperava que as pessoas me olhassem. “Não, bobagem. Pode se impor um pouquinho mais e tá tudo certo“.

Para esse último caso, apliquei uma lição que aprendi na música e na fotografia: experimentação e pequenos passos. No momento seguinte, pedi a atenção das pessoas presentes de uma maneira cortês e mais incisiva. Deu certo. Não reinventei a roda ou copiei alguém, só perdi a timidez.

Esse círculo virtuoso: “curiosidade, experimentação, pequenos passos, exposição, mostrar o trabalho, repetir” pode andar junto com “ser o mesmo para se reinventar“. Não dá para fotografar e tocar bateria emulando outra pessoa. Também não dá para escrever e falar sobre educação utilizando outras vozes. É preciso continuar colhendo as referências e inspirações, fazer as conexões improváveis (1 + 1 = 3) e principalmente, continuar vencendo o medo de colocar o trabalho no mundo.

Sigo descobrindo os caminhos. 🙂