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42

– A Resposta à Grande Questão… – disse o Pensador Profundo.

– Sim…!

– …da Vida, o Universo e Tudo Mais… – disse o Pensador Profundo, e fez uma pausa.

– Sim…!

– Quarenta e dois – disse o Pensador Profundo, com uma majestade e uma tranqüilidade infinitas.

Esse trecho veio de um livro que adoro, o “Guia do Mochileiro das Galáxias”. Esperei 20 anos para usar como tema para o texto de aniversário.

E é isso. Hoje completo 42 anos. Recebi a resposta para a grande questão da vida, o universo e tudo mais. Tal qual o livro, ainda não descobri a pergunta, embora tenho algumas hipóteses.

A Grande Questão envolve olhar pra dentro, ver que a cabeça não está funcionando bem para além do que as ressonâncias conseguem enxergar e assumir que é preciso pedir ajuda. Para tanto, também é importante descer de um pedestal de “arrogância intelectual”, admitir que “tudo sei que nada sei” e que não tenho a solução para todos os problemas, especialmente os da saúde mental.

A Grande Questão envolve olhar para um espelho e ser mais carinhoso e cuidar melhor do que eu vejo. Não sou uma lata velha que não tem mais conserto, é bom aceitar elogios, é fundamental me elogiar. Em outra esfera, colocar limites, não ter medo de ocupar e delimitar espaços. Me posicionar.

Significa calibrar melhor a visão e saber que posso ser tão grande feito o mundo. E largar a escala real – uma pessoa de 1,83m morando em um planeta de 40 mil km de circunferência na sua parte mais larga – como referência para quem eu sou, o que eu quero, o que eu posso.

Sentir ainda mais orgulho das coisas que fiz e aprender com as experiências que tive. E não falo somente da epítome da beleza chamada Samuel, dividir a vida com uma mulher absolutamente incrível que é a Carol ou ter a família que eu tenho, porque isso é fácil. Falo dos dias ruins ou das vezes que me boicotei por achar que não sou digno dessa experiência (e caberia uma imensa caixa de seleção aqui). Olhar para esses casos e fazer de tudo para não passar por isso novamente.

Continuar olhando o mundo com um olhar contemplativo e curioso. Compartilhar o que vejo, o que escuto, o que registro. Ao mesmo tempo, utilizar essa potência criativa como ferramenta para dar ordem no caos dos pensamentos que correm nessa autoestrada maluca dentro da minha cabeça.

E finalmente, a Grande Questão passa por celebrar o amor, o carinho e agradecer por todas as coisas bonitas que escuto hoje e todos os dias. Muitas vezes não é fácil aceitar e acreditar nisso. Estar no lado mais cinzento das coisas é mais confortável, ao mesmo tempo que é bem doloroso. E cansa. Já deu.

42 pode ser a resposta para a grande questão. E pode ser um recomeço.

Que seja bom.

Samuel v0.11

Que seja um bom texto de despedida.

Ontem, 22/07, Samuel completou 11 meses. Na hora do parabéns do mesversário, com o bolo que a vovó Pilar comprou e que também fez a alegria do escritório hoje, percebemos que estávamos cantando o parabéns mensal pela última vez. E escrever essa frase me trouxe sentimentos mistos.

De todas as versões mensais, acho que a v0.11 do Samuel é a que apresenta mais mudanças, avanços e descobertas em relação às anteriores. Ele aponta, se comunica, tem uma biblioteca de sons que é muito engraçada, faz dramas homéricos quando é deitado no trocador. O sorriso está no plural, são sorrisos, risadas e gargalhadas de mostrar os dentes que agora são quatro, dois embaixo e dois em cima.

Ele sai engatinhando e o som das mãozinhas batendo no piso é um dos mais gostosos. Só perde para a gargalhada quando apostamos corrida em quatro apoios, e se eu sou mais rápido, ele tem os joelhos em melhores condições e isso faz muita diferença. Outro som delicioso – menos para o vizinho de baixo – é o da escadinha montessoriana sendo arrastada pela sala, e ela é o apoio para o rapazinho que ensaia seus primeiros passos.

Nos últimos dois meses, ele desmamou por conta própria, aprendeu a beber leite e água no copinho e devora qualquer tipo de proteína animal. Asinha de frango e salmão são os pratos preferidos. Banana, uva e manga também são bem-vindas.

Eu me perco quando olho para esses olhos. Eles são lindos, compõem um olhar curioso e com uma vontade de viver imensa, do tamanho de quem passou por um turbilhão de coisas logo no comecinho da vida e tirou tudo de letra. Eu também olho para me observar, aprender com o Samuel e tentar entender o furacão que passa de maneira figurativa pela minha cabeça, enquanto ainda tento descobrir como equilibrar os pratinhos de profissional e pai, e tentar imaginar o que está por vir. É impossível saber e isso é uma dor e uma delícia.

A próxima versão é a 1.0 e que jornada será daqui pra frente.

Obrigado por tudo até aqui, filho.

Samuel v0.8

Na semana passada, que marcou o lançamento da versão 0.8 do Samuel, um bocado de coisas passou pela minha cabeça. Começa com todas as fics que já criei dentro da pasta “Projeções que pais e mães fazem para suas crias”. Algumas simples, outras mais elaboradas, todas sem o menor compromisso de tornarem-se reais.

Samuel pode ser um romancista que terá sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, dada a sua capacidade de contar histórias. Ou um Relações Públicas de sucesso porque tem o sorriso fácil e o mais cativante já registrado. Finalmente, por conta das coxinhas, estou diante do kicker novato que dará ao Carolina Panthers o primeiro Super Bowl da história do time. (Para essa, tenho até a frase que será ouvida no ano de 2045 durante Draft, o recrutamento de novatos na NFL).

Esses devaneios são frutos do que vejo todo dia: aquele serzinho frágil dos primeiros dias agora é um bebê forte; expressivo com risadas, sorrisos e manhas – uma delas valeu um presente na loja de brinquedos do bairro – além de criativo e curioso.

O problema é que essa capacidade de inventar futuros é a mesma que cria ansiedades achando que coisas serão resolvidas em um passe de mágica. “Vrá!” e ele começa a gostar de comida e colocar coisas na boca. “Ping!” e ele começa a parar de engatinhar pra trás e começa a engatinhar pra frente.

Somar isso às réguas e validações externas da parentalidade perfeita de Instagram representa um risco. Acabo anulando essa observação mais apurada e a capacidade de perceber as nuances e os pequenos avanços, esses bem relevantes.

Quando amplio o olhar, percebo os avanços. Nos últimos dias, foi incrível perceber que ele me deixou colocar a escova de dentes em sua boca e limpar os três protótipos de dente. Mais do que isso, vê-lo devorar um hamburguinho foi um momento mágico. A curiosidade no sabor, a mastigação e os pedacinhos espalhados pela boca, rosto, mesinha, cadeira e chão. Uma cena digna de Discovery Channel, “cai a noite na floresta e o predador delicia-se com sua presa”, e também um poderoso lembrete de que é preciso respeitar o tempo da criança.

Respeitar o tempo do Samuel. Queimar etapas não vai acelerar nenhum processo, porque isso não é uma linha de montagem.

Só ajuda a criar ansiedades e parar de perceber a maravilha que é o seu processo de descobertas.

Avante.

Viver é muito louco

Samuel foi batizado no sábado, 23. Uma tarde recheada de amor e pessoas queridas. No meio do dia, lembrei que num 23/03, há três anos, recebi o diagnóstico da bola de golfe tumoral que morava na minha cabeça.

No carro voltando pra casa, falei com a Tutu que eu não precisava fazer mais planos. “Agora é hora de fazê-los“, foi a resposta.

Chegando em casa, falei com a Carol que ela podia ir embora, se quisesse. “Eu vou ficar“, foi a resposta.

Falei pra mim mesmo que estava poupado de mudar qualquer coisa, porque aparentemente eu ia morrer. Não morri.

Fiz planos, fizemos um filho e eu mudo e me reinvento.

Viver é muito louco. ❤️