Um TL;DR sincero sobre meus cinco anos em São Paulo.
1822 e a educação profissional
Disclaimer importantíssimo: O que está nesse post reflete única e somente a minha opinião e não reflete a opinião do Comitê Organizador ou dos meus colegas de trabalho. Posto isso, boa leitura!
Ah, TL;DR!
Terminei 1822 outro dia. Leitura fundamental pra entender muita coisa. De como um momento fundamental da história brasileira foi passada por alto nas minhas aulas de história, de como o o atual estágio das coisas é reflexo do que foi feito 193 anos atrás e como a luta por um país mais igual é longa e continuará árdua.
É meio óbvio afirmar isso, mas tudo isso tem ligação direta com a razão do meu trabalho hoje na comunicação da WorldSkills São Paulo 2015. Permitam-me uma reflexão. Há tempo que reclamamos da falta de mão de obra qualificada no mercado. Precisamos (ou precisávamos) de engenheiros, mas também precisamos de marceneiros, soldadores, profissionais da alvenaria. Mesmo para uma obra ou pintura em nossas casas. Os bons profissionais não tem agenda e cobram caro. “Ah, mas mil reais pra um serviço de pintura?” A vida é dura, jovem. Se quiser, vá lá e faça.
Mas há um problema. Nós, brasileiros, valorizamos o trabalho como adjetivo, mas temos aversão quando é um substantivo. “Fulano é boa pessoa, é trabalhador” é socialmente aceito. Pegar um carrinho de tijolos e subir uma parede, não. Desde que D. João pisou nessas terras, o trabalho duro não é “pra gente”, é sempre “pro outro”. No caso, “o outro” eram os escravos ou as camadas mais pobres da população. O botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que visitou o Brasil entre 1816 e 1820 escreveu:
Madame tem suas escravas — duas, três, seis ou oito, conforme o infeliz esposo abrir a bolsa. Essas criadas negras nunca podem arredar-se da imediata proximidade de sua severa dona. Devem entender-lhe e até interpretar-lhe o olhar. Seria demais exigir que a senhora, fosse ela mulher de um simples vendeiro, se sirva ela mesma de um copo d’água, ainda que o jarro esteja junto dela sobre a mesa. É tão doce poder tiranizar! De cozinhar e lavar, nem se fale: para semelhante trabalho de escravos Deus criou os negros…
Havia uma corrente abolicionista e a favor da criação de uma universidade no Brasil. Dar liberdade para os escravos e expandir o acesso à educação, em todos os níveis, seria a chave pro desenvolvimento do país, diziam. “A educação limitava-se aos níveis mais básicos e a uma minoria muito restrita da população. De cada cem brasileiros, menos de dez sabiam ler e escrever”. Os que tinham acesso faziam a graduação na Europa, na Universidade de Coimbra, por exemplo. Não é preciso dizer que nada disso aconteceu perto da Independência. Ao que parece, desde sempre, mexer no status quo dá um problema danado. Nesse meio tempo, forjamos a mentalidade de que somente a Academia é sinônimo de sucesso, desqualificamos o trabalho manual e seguimos o barco.
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Educação é um tema fascinante. E um dos maiores ganhos de estar envolvido em um projeto como a WorldSkills é poder tirar todos os estigmas da educação profissional. Um evento como a Olímpiada do Conhecimento, que tive a chance de ver no ano passado, comprova a nossa diversidade de habilidades e inteligências. Meninos e meninas muito bons em Mecatrônica, ou Cozinha, ou Jardinagem, ou Serviço Social ou… a lista vai e vai.
E comprova também que o acesso à Educação pode mudar vidas. (Segundo o Vox, a educação infelizmente não cura a pobreza, mas eu acho que ajuda bem). Conversei com alguns meninos que representaram o Brasil na WorldSkills e a história é sempre muito parecida: famílias humildes onde os pais indicam a educação profissional como um caminho “pra ser alguém”. O envolvimento com a competição é variado – alguns por aptidão total ao curso, outros porque adoram competir – mas todos são bem sucedidos na escolha que fizeram. E a percepção de que existe um outro caminho diferente da academia é algo que a classe média, em sua grande maioria, não tem. E por isso fazemos tão pouco caso.
Não estou diminuindo a importância das universidades, longe disso. Mas é preciso mudar o paradigma. Existem outras opções igualmente relevantes e “socialmente aceitas”. Já pararam pra pensar que algumas profissões oriundas de cursos técnicos oferecem salários muito maiores do que profissões da graduação? (Aliás, bom título para um e-mail marketing: “Conheça 50 profissões que ganham mais do que Advogados e Jornalistas e não precisam de diploma superior”). Mais a mais, um engenheiro que tem experiência de “chão de fábrica” vai ser um profissional melhor.
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Dentro da WorldSkills São Paulo 2015, acho que nosso desafio “são” dois, no final das contas: Tentar colocar a educação profissional na agenda das pessoas e, principalmente, acabar com o preconceito em cima do trabalho. Qualquer trabalho é importante. Qualquer trabalho ajuda a sociedade a se transformar e progredir. Claro, se os abolicionistas tivessem ganhado a discussão em 1822, a história seria diferente e meu trabalho seria muito mais fácil. Estaríamos focados em somente promover uma competição e não tentar quebrar um paradigma. Mas, se no fim dos trabalhos conseguirmos essa quebra, acho que vou considerar a missão como bem sucedida.
Speech animado
Registrando para a posteridade.
Altitude de cruzeiro, eu ouvindo música e Carolina dormindo no meu ombro. De repente, um som alto ecoa pela cabine. Carol acorda assustada, eu tiro o fone de ouvido.
“BOM DIA, PASSAGEIROS DO VOO GOL 1010!” – Era o piloto, com o speech mais entusiasmado dos últimos tempos.
– Estamos aqui na primeira ponte aérea desse domingão! Voo curtinho, 35 minutos e logo logo estaremos pousando no Rio! (Aêêêêê!)
Sério, como alguém pode ser tão animado assim?
– Rio de Janeiro com céu encoberto, e temperatura de 18 graus… BRINCADEIRA! Não vou sacanear o feriado de vocês! Tempo ótimo e a temperatura chegará aos 31 graus.
Nunca tinha visto nada parecido. Quando o avião pousou, agradeci pelo serviço e pelo speech. E fiquei pensando, será que ele faz freela? Colocaria ele na porta do escritório toda segunda-feira.
Seria um sucesso danado!
Dia do jornalista
(O motivo da foto: Esse post entraria ontem. Mas o César ganhou o BBB e todo mundo começou a falar disso. Ninguém tava afim de falar de jornalismo, imagino.)
O Dia do Jornalista ontem foi recheado de notícias ruins para o menino jornalismo. O Estadão demitiu vários profissionais, fechou cadernos e vai acabando. E eu, que pego tão pesado com o ofício e com a preguiça de alguns colegas jornalistas, vejo cada vez mais que a culpa não é deles. A culpa é do modelo de negócio dos veículos, especialmente no Brasil, que está esgotado.
Isso é particularmente curioso. Por um lado, produzir e distribuir conteúdo nunca foi tão fácil. Mas, igualmente fácil – e muito mais rentável – é a busca por cliques, audiência e afins. É o lado que prioriza as manchetes horríveis, mais veículos tentando fazer “Buzzfeed” em seus portais – como se listas resolvessem os problemas – e conteúdo ruim. E o jornalismo ruim, preguiçoso, que me dá raiva, atropelou o jornalismo bom, investigativo. O primeiro é o que a audiência quer saber, o segundo é o que ela precisa saber. (Peguei essa referência desse post da Carta Capital).
Não precisamos falar do primeiro. Ele tá aí nos portais todos os dias, toda hora. Já o segundo, parece que os veículos “tradicionais” não conseguem fazer reportagens como antigamente. Nos grandes portais, vejo o TAB do UOL como uma exceção. O Vice Brasil consegue fazer jornalismo investigativo muito bem feito e com uma estrutura menor. Mas são os exemplos que eu tenho.
De qualquer maneira, a saída talvez passe por redações mais enxutas e com certeza acaba no bom conteúdo. O atual estado do jornalismo precisa, mais do que nunca, de bons profissionais. Gente que vai atrás das histórias e dos dados, que gosta de por a mão na massa e fazer conteúdo de qualidade. Talvez menos dependente das grandes redações. Com a distribuição fragmentada, como falamos no post sobre o Facebook, o bom conteúdo vai achar seu espaço, em qualquer lugar que seja oferecido para sua distribuição.
Possíveis boas discussões a partir desse post:
1) Podemos definir “público para o bom conteúdo”? Para o dono do jornal, é o que traz audiência somente. Para o jornalista, é o que informe, crie uma massa crítica e dê audiência. Eu fico com essa segunda opção.
2) Alguns amigos que leram essas linhas acham que o sindicato poderia ajudar a categoria. Vários jornalistas entram mais cedo e saem mais tarde cobrindo os colegas demitidos nos passaralhos e a nave segue.
O jornal Facebook
Pingou na newsletter do Quartz, vindo do The New York Times e no The Atlantic: O Facebook quer virar uma plataforma de notícias. Como? Pedindo para que alguns veículos postem diretamente na rede social. Ao que parece, Buzzfeed e National Geographic foram sondados para isso, além do próprio The New York Times.
O Facebook quer ser o grande atacadista de notícias, tudo em um ambiente só e sem ser o responsável pela criação do conteúdo. O usuário continua dentro do site – diminuindo o tempo de carregamento da notícia – e sendo alvo da maior quantidade possível de anúncios nesse meio tempo.
Meus dois centavos sobre o assunto. Eu acho um tremendo vacilo colocar todas as fichas no Facebook. Tempos atrás, vi um certo movimento de websites migrando para as páginas da rede social, “onde a audiência está”. É o caminho mais fácil, mas imagine se um dia o Zuckerberg mudar a política de uso e começar a cobrar cada página por suas curtidas, ou likes, ou postagens? Do mesmo jeito, não sei se veículos estabelecidos gostariam de ser servos no reino do Facebook. Tenho muitas dúvidas sobre isso. Como será o modelo de negócios dessa parceria? O Facebook irá distribuir o lucro? Afinal, os veículos ainda lutam para sobreviver no mundo digital e para entender como deixar a operação rentável. Uma outra mudança pode ser a pá de cal.
Da mesma forma, se comportarão os veículos que não querem aderir ao modelo? O Vox, por exemplo, que consegue 40% da sua audiência através do Facebook e ao que parece, estão indo bem. A não ser que o Facebook puna-os com uma mudança no algoritmo, não será fácil convencê-los a mudar a forma de atuação. Jogar em seu próprio terreno significa ter controle das métricas e dos anúncios. É muita coisa em jogo para uma troca.
Por outro lado, como defende o Terence Reis, o futuro do conteúdo é fragmentado. Nesse ponto, faz sentido distribuir o conteúdo pelo Facebook e por quem mais oferecer uma plataforma. Um protótipo disso seria a Apple TV, onde diversos canais oferecem o mesmo conteúdo que você veria, por exemplo, na TV “comum” ou em um website.
De repente, e finalmente, os veículos conseguirão lucrar com a produção da notícia em si, colocando o conteúdo em qualquer plataforma. Não sei como isso funcionaria ao certo, principalmente na questão financeira: acessos da API, contagem de visitas? É algo que precisa ser discutido. Mas sou eu elocubrando apenas.
Cosby
Eu não sei quantos anos o Cosby teve. A Dra. Luciana disse que ele tinha sete. Quando fizemos o ecocardiograma pré-castração, ela olhou o resultado e deu mais uns quatro de lambuja. Um outro veterinário olhou e falou “é… acho que tem uns 14”. Eu e Carol decidimos não levá-lo em nenhum outro, porque poderia ser uma progressão geométrica e até 14 tava bom demais.
Eu não sei qual era a raça do Cosby. Eram tantas raças naquele emaranhado de pelos que eu e Carol determinamos que ele seria um “Blend Brasileiro”. Porque a gente olhava por um ângulo e via um Labrador. Por outro, era um Border Collie e de perfil tinha parecia um Whippet. Então convencionamos que ele era um Blend Brasileiro. “Blend” é chique, mais refinado que Vira Lata e mais pessoal que S.R.D.
A gente não sabe qual foi a vida do Cosby antes. A Mayara o achou perambulando na Saúde, com peitoral. Ou ele fugiu ou algum sacana o abandonou. Ela o levou na Dra. Luciana, que fez o primeiro diagnóstico. “Tem problema de coluna, talvez tenha sofrido cinomose, talvez tenha sido vítima de maus-tratos”. Guto e Mayara colocam a foto do cão no Facebook. Rúbia faz a ponte entre eles e a gente. Bingo! Cosby ganha uma casa nova. Isso em 30 de janeiro de 2014.
(Aliás, Cosby se chamou assim por acaso. Dias antes havia visto essa entrevista maravilhosa do Bill Cosby contando suas aventuras como baterista. Fossem pelas últimas notícias do humorista, o nosso Cosby teria um nome diferente.)
Dali pra frente, a gente só sabia como seria sua vida a partir daquele dia. E foi um período de muito aprendizado. Tivemos que conquistar o cachorro, pouco a pouco. Quando vimos, não era a gente que ia atrás dele oferecer carinho e sim o contrário. Cosby mostrou-se ser muito bonzinho, embora desconfiado. Relativamente adestrado, não fazia xixi dentro de casa e aprendeu os novos truques da adestradora com alguma facilidade. Não que tenha sido super fácil. Sua audição era horrível e o problema na coluna certamente o incomodava. Ele praticamente não tinha força nas patas traseiras.

A última foto do Cosby, no domingo
Imaginamos que ele teria a expectativa de vida canina, em torno de 15 anos. E isso significava mais oito, seis ou só um ano de companhia. Resolvemos aproveitar o momento. Não raro, eu e Carol colocamos o Cosby como prioridade. Entendemos as suas limitações e quando a coluna começou a incomodar, começamos a carregá-lo nas escadas entre o apartamento e a portaria. Mas isso não era problema, mesmo com sua condição piorando pouco em pouco.
No fim do ano, ele foi passar férias em BH na casa da Semira, avó da Carol. Fomos buscá-lo no último fim de semana, e no domingo, dia de ir embora, ele estava muito prostrado. Levamos à clínica veterinária que sempre atendeu a Naomi, fizemos alguns exames, ele tomou um anti-inflamatório, a veterinária vetou a viagem. Deixamos ele em casa e voltamos pra São Paulo. Na segunda, ele piorou novamente e precisou voltar para a veterinária.
Não houve melhoras de segunda pra hoje. Problema motor crônico, pulmão e coração também já meio baleados. Não há muito o que fazer. Eu e Carol discutimos, pensamos, ponderamos. E nosso sofrimento não tinha que ser maior que o dele. Não havia sentido fazer o Cosby sofrer por uma melhora que não virá. Tomamos a decisão mais drástica.
Confesso que não é uma decisão fácil determinar o fim da vida de alguém. E, depois da Naomi, não esperava sofrer por causa de cachorro em tão pouco tempo depois. Mas eu não gosto de olhar desse jeito. Eu prefiro acreditar que conseguimos oferecer um restinho de vida muito digno para o Cosby. Não faltaram carinho, dedicação e paciência. E, pra gente, o finzinho de vida dele não deveria ser de dor e sofrimento. Muita gente fala que fomos “anjos na vida dele”. Pode até ser, mas pra mim, fizemos o que tinha que ser feito.
E eu não sei como é o céu dos cachorros. O que eu sei é que o Cosby vai fazer uma falta danada aqui embaixo.
Vida de Escritório
Felizmente, apesar de toda a correria, tenho tido a oportunidade de fotografar relativamente bem nos últimos tempos. E descobri que um dos jeitos de exercitar o olhar é (tentar) criar algumas séries, especialmente no Instagram, onde dou mais as caras. Já fotografei bastante o metrô e de lá saiu o “A Vida é Esperar“, onde registro pessoas esperando alguma coisa.
Outro dia, no caminho entre a minha mesa e a cozinha, vi uma pequena reunião em um canto de escritório. Saquei o telefone, fotografei, fiz uma ediçãozinha básica e pronto! Era o nascimento da série “Vida de Escritório”. Precisei de algumas fotos e outros conselhos para acertar o tom da série.

A primeira foto do série. Apresentando Mayra Tomé, Marina Figueira e Flavia Ribeiro
Mas do que se trata?
Basicamente, o Vida de Escritório reúne o outro lado do nosso dia a dia aqui. São as caras e bocas mais tensas, nos momentos de concentração, em reuniões etc. Ou, como já ouvi, “momentos onde tudo está perdido“, porém nem tanto. A versão cinema noir do nosso trabalho. Fotos em P&B, embora algumas tenham escapado, e feições preocupadas. Afinal, estamos todos com excelentes intenções e empenhados em fazer o melhor trabalho possível. Mas não sem um pouco de drama. 😉
Se você quiser acompanhar a série, te dou três opções. Me seguir no instagram ou acompanhar nos álbuns do Facebook e Google+.
(E nota final, eu tenho os melhores personagens do mundo até o momento!)
Made by… Feito por Brasileiros (e/ou, levando a Fuji para passear)
Quando cheguei em São Paulo, lá no distante 2010, duas coisas me impressionavam na vista que tinha da janela do trabalho, em um alto 19o andar da Avenida Paulista: A infinitude de São Paulo até onde a vista alcançava e, logo abaixo do meu nariz, o Hospital Matarazzo. Um conjunto de prédios baixinhos, completamente abandonado desde 1994, no filé mignon da cidade. Desde então há uma grande discussão sobre o que fazer com o prédio: Se ele vai virar hotel, faculdade, um novo hospital, teatro, vocês escolhem…
Sempre que passava perto do prédio, ficava curioso em saber como era por dentro. Finalmente consegui, graças à exposição Made by… Feito por Brasileiros. Uma cacetada de artistas, brasileiros e estrangeiros, ocuparam os espaços do hospital para expor. Tem “de um tudo”, pintura, escultura, performances, vídeos, arte abstrata. Coisas muito legais e coisas que o release é mais valoroso que a obra em si.
Vale a visita, de qualquer maneira, pela diversidade e pelo espaço, belo e assustador ao mesmo tempo. Eu espero que o espaço do hospital se transforme em algo bacana e que não seja mais uma vítima da maldita especulação imobiliária, essa maldita.
A Fuji

Aquele auto-retrato hipster só para mostrar a câmera.
A ida à exposição foi bacana também por um outro motivo. Levei a nova câmera da casa, uma FujiFilm X-E1, para passear. Vale ressaltar que sempre me considerei um cara da Canon. Sempre que brinquei de fotografar com Canons, desde uma antiga G5 que peguei emprestada de um tio até o caso de amor que vivo com minha 5DII desde 2011.
Mas o peso e o tamanho da 5D são um problema grave. Exige uma mochila, que acaba maltratando as costas depois de algumas horas de passeio. E as pessoas sentem-se meio intimidadas com todo o aparato dela. Na busca por uma câmera menor, acabei sendo convencido pelo amigo Carlos Hauck de que a X-E1 seria uma boa opção. Realmente é. Gostosa de pegar, tão bonita quanto à 5D, mas mais charmosa. Cabe em qualquer bolsa e passa por uma câmera antiga, o que “desarma” as pessoas. Até agora, o que me incomoda é o autofoco lento em determinadas condições de luz, mas a gente se acostuma. Virou uma opção bacana de câmera. 🙂
Algumas fotos do passeio:
Da minha terra à Terra
Recentemente terminei a autobiografia do Sebastião Salgado, “Da Minha Terra à Terra”, presente de aniversário dado pelo Bruno Milagres. Rápido e fácil de ler, é livro para uma ou duas sentadas. Nele, Salgado conta sua vida desde a fazenda do seu pai em Aimoré até hoje. No meio disso tudo, “só” as suas histórias, do envolvimento com a fotografia, os livros, a vida pessoal. É muito rico e caras como o Sebastião Salgado são poucos no mundo.
No entanto, o que mais me interessou não foram as partes técnicas sobre fotografia. Aliás, as partes técnicas sempre me dão medo quando leio entrevistas e livros sobre música e fotografia, em especial. Quando a conversa começa a girar em torno de pormenores técnicos é quando ela se afasta das “pessoas normais”, e acabam virando imensos tratados sobre câmeras e lentes (ou baquetas, pratos e peles de bateria). Claro, Salgado fala das câmeras, dos filmes, dos químicos, mas completamente dentro do contexto das suas histórias. E são essas histórias que me interessaram, principalmente a maneira como ele se envolve socialmente e emocionalmente com os assuntos fotografados.
Eu não me considero um fotógrafo de ofício, mas um grande entusiasta. Também não quero, e imagino que nem consiga, ser um Sebastião Salgado. Mas independente do meio, seja a fotografia ou o texto (pra ficar na minha onda), a coisa mais importante sobre contar uma história é se envolver com ela. Fazer parte do grupo, se “esconder” no assunto, passar despercebido. Tímido que sou, tenho muita dificuldade nisso, especialmente fotografando. Travo até nos momentos mais prosaicos. Acho que estou atrapalhando, que alguém vai perceber. Sempre acho que sou um elefante andando no meio de uma sala.
Não há receita de bolo para isso, é claro. Mas se aproximar, ouvir e trocar experiências seria a chave. Tanto para acabar com a timidez quanto para contar boas histórias. Acho que esse é o maior dos aprendizados do livro.
Ainda chego lá. 🙂
Minha Olimpíada do Conhecimento
Atenção: Se você é da turma do TL;DR – too long; didn’t read – esse post talvez não seja pra você. Mas aviso, vai perder. 🙂
Título alternativo: Das experiências da semana passada. Até o começo do mês, foram cinco meses e meio trabalhando na WorldSkills São Paulo 2015. Trabalhando em cima de algo que é bem especial e gigantesco, mas que não era “tocável”. Eu planejava e rabiscava as coisas em cima de fotos, vídeos e experiências dos outros. De certa forma é legal e legítimo, uma vez que as histórias são contadas assim, vide esse post. Mas não adianta muito, se precisamos ter a experiência ao vivo.
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Quarta, dia 3, chego em BH para trabalhar. Primeira vez que isso me acontece na vida. Voltar para a cidade natal a trabalho. Já conhecia o Expominas razoavelmente. Inclusive lembrei a posição do estande da Labtest durante um congresso que fizemos lá em 2007. E antes de pisar no escritório pela primeira vez, eu já sabia, bem mais ou menos, o que era a Olimpíada do Conhecimento.
Para quem não sabe, uma breve descrição. A Olimpíada do Conhecimento é o torneio de educação profissional promovido pelo SENAI e que conta também com a presença de alunos do SENAC e de Institutos Federais de Ensino Técnico. Foram cerca de 800 alunos competindo em 58 ocupações, as modalidades. De solda até jardinagem e inseminação artificial, passando por panificação, serviço de restaurante. Para chegar ali, os jovens já passaram por eliminatórias em suas escolas e em seus estados.
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Por isso, nada se compara ao que senti nesses cinco dias vivenciando a Competição. Mesmo na jornada tripla: observador, expositor e espectador, foi bem divertido. Observador porque precisava ver como é a competição, o que foi feito de comunicação para ela e descobrir o que deu certo e o que deu errado. Expositor porque estávamos com um estande para promover e divulgar a WorldSkills São Paulo 2015. Afinal, os representantes da equipe brasileira saem da Olimpíada do Conhecimento. E espectador porque, óbvio, a OC é um dos lugares mais legais para se estar quando somos curiosos. E eu sou um.
Sobre o estande, acho que foi um sucesso mesmo com a fama repentina dos nossos brindes. De uma hora pra outra, todo mundo queria a nossa sacola. Nem todos conseguiram, é verdade, mas a quantidade era muito pequena. Por outro lado, houve bastante interesse pela Competição. Muita gente querendo fazer parte da WorldSkills no ano que vem, principalmente como voluntário.
A parte mais divertida foi ser espectador. Dar voltas gigantes pela estrutura montada, ver a turma trabalhando pesado em suas ocupações e entender, finalmente, o sentido de todo o trabalho que estamos desenvolvendo. Tinha muita gente andando na Expominas, de todas as idades. Todos impressionados com a estrutura. Afinal, não é todo dia que você consegue ver uma quantidade absurda de equipamentos, para os mais variados fins. Principalmente, a Competição mostra que o talento, as habilidades e a criatividade humana são extremamente diversos e riquíssimos. Como diz o Ken Robinson:
(Um) Pensamos a respeito do mundo de todas as formas que o vivenciamos. Pensamos visualmente, pensamos auditivamente, pensamos cinestesicamente. Pensamos em termo abstratos, pensamos em movimento. Dois, inteligência é dinâmica. Se formos olhar as interações do cérebro humano (…) a inteligência é maravilhosamente interativa. O cérebro não se divide em compartimentos.
E no final, acho que esse é o ponto de todos esses cinco dias de Expominas. A Olimpíada do Conhecimento é uma celebração da diversidade de talentos e da nossa criatividade. E isso é bonito demais. Bonito feito a felicidade dos competidores que desfilavam suas medalhas no aeroporto na segunda-feira. Ao meu lado no avião, estava a menina do Rio Grande do Sul que conquistou a Prata em Design Gráfico. Quando perguntei sobre a medalha, ela abriu um sorriso muito bacana.
Daqui até agosto do ano que vem, na WorldSkills São Paulo 2015, a carga e a pressão vão aumentar. Mas tenho certeza de que estou no lugar certo, cercado das pessoas certas e no projeto certo. E significa que vamos fazer o melhor trabalho possível, daqui até o final. 🙂
Ah, peguei a foto no Flickr da CNI. Tem outras fotos incríveis lá.