(O publisher entendeu que a arte acontece no tempo da artista)
Há tempo para a arte? Preparação, técnicas e repertórios são importantes, mas, o que fazer quando a arte aparece do nada, em um rompante criativo? Esse contraste aparece em “Adeus Pote de Sopa”, a nova obra de Olívia, a Whippet.
“Adeus pote de sopa” (Cenoura, gengibre, plástico) – 2016
Esta obra nasceu da curiosidade nata da artista. Aproveitando um momento de rara tranquilidade no ateliê, Olívia aproveitou um pote de caldo de cenoura com gengibre em cima da mesa para fazer esta obra. Rápida, contrastante e visceral, “Adeus Pote de Sopa” é a primeira incursão da artista no Expressionismo abstrato.
Assim como “Lixo” e “Bromélia“, esta obra traz o efêmero como elemento chave. Afinal, uma vez vista e limpa, a obra deixa de existir. Como um prato ou uma música ao vivo, “Adeus, Pote de Sopa” foi apreciada somente por quem estava lá.
“Adeus pote de sopa” (Cenoura, gengibre, plástico) – 2016
Finalmente, Olívia enfrenta o fetichismo do alimento, tão presentes nos dias de hoje. O título da obra é uma referência à famosa sobremesa do italiano Massimo Bottura. Além disso, questiona os tempos de gourmetização em torno da alimentação simples e popular.
Não há crowdfunding que resista às provocações desta jovem artista.
“Adeus pote de sopa” (Cenoura, gengibre, plástico) – 2016
A arte não tem fronteiras, é global e aproxima culturas. E esse multiculturalismo pode ser definido de várias formas, especialmente na colaboração e no retrabalho. Esta é a mensagem que a artista plástica Olívia, a Whippet, nos passa em “Cesto”.
“Cesto” (Palha) – 2016
Em sua sétima obra, Olívia trabalha em uma peça artesanal mexicana e traz questionamentos interessantes. Qual é o valor de uma obra de pouca tiragem, feito um cesto artesanal? A obra ganha mais valor se for retrabalhada? Definida como (ar)artesanato, esta obra mostra um refinamento na técnica da artista, mais atenta ao detalhe e capaz de trabalhar materiais mais frágeis com sensibilidade e elegância.
“Cesto” não é simples. Da escolha do material à composição, a obra pode ser interpretada de diversas formas. Do desmanche do que temos como garantido, seja a democracia ou os ideais progressistas do multiculturalismo até a ideia da fragilidade da palha e como, dentro do clichê, a união faz a força.
São apenas insights de Olívia, uma artista que busca formas de externar suas inquietudes enquanto permanece atenta aos movimentos sociais e políticos atuais.
Rapidinho, pra manter esse espaço atualizado. Estamos produzindo pílulas de conteúdo aqui na Nuts sempre que dá. A ideia é descomplicar essa produção e estimular o compartilhamento de conteúdos que gostamos, de livros até conceitos.
Essa semana, falei do “Rework“, livro escrito por Jason Fried e David Heinemeier Hansson, criadores do Basecamp, aquela ferramenta para gerenciamento de projetos.
O livro é a essência da empresa. Uma equipe pequena e remota, espalhada nos Estados Unidos e na Dinamarca, valores humanos bem definidos e colocados em prática e uma cultura de muito trabalho e pouco mise-en-scene.
E as práticas têm tudo a ver com o que eu acredito:
Seja transparente em todas as relações;
Compartilhar conhecimento e boas práticas;
Se seu produto é ótimo, disponibilize um pedacinho de graça;
Lembre-se que marketing não é um departamento e sim a soma de tudo o que fazemos, incluindo nosso comportamento.
Enfim, o produto final tá aí embaixo. Espero que gostem!
Acho que eu sempre me identifiquei com o trabalho de formiguinha, dos bastidores. Não sei se por timidez ou pela discrição. Mas deve ser por isso que me interessei pelo jornalismo, pela fotografia, pela bateria. São maneiras de contar histórias.
Eu escrevo, registro e falo sobre o que vejo. Nunca quis aparecer na frente da TV, sempre quis contar as histórias. Não sou do tipo que gosta de selfie, quase não apareço no meu próprio feed do Instagram. Como músico, eu fico lá trás, mantendo o groove enquanto o resto da banda faz o seu trabalho. Detestava fazer um solo, talvez por que tenho imensa dificuldade de me expor. “Mas você se expõe no seu podcast”. Sim, mas quando faço um podcast, uso a voz e não a imagem. É um risco controlado.
Mas esse risco controlado vem com um preço. Especialmente nos dias de hoje. Eu, que sempre fui avesso à auto-promoção, descobri que até ela precisa acontecer como um risco controlado. E é isso que estou fazendo com esse site, que já estava registrado há alguns bons anos.
Migrei todo o conteúdo do Bonks pra cá, coloquei minhas fotos e criei uma sessão para o Ainda Sem Nome, o podcast sobre comunicação digital. Exposição virtual controlada, e “na tora”. Agora vai.
Foi meu presente de 34 anos. Vamos fazer isso funcionar, de um jeito ou de outro.
(Olívia sinalizou que está bem incomodada com a lentidão do seu publisher na liberação de suas obras)
Brotamos, nascemos, crescemos e morremos. Esta regra da vida, na cabeça de Olívia, pode ser encarada como um ciclo. Partindo desta premissa e do experimento com diferentes matérias-primas, nasce seu novo trabalho: “Bromélia”.
“Bromélia” (flores e plantas) – 2016
Esta obra segue a tendência de “Lixo“. Trabalhos grandiosos e multissensoriais, onde o público pode não apenas ver o que está exposto, mas também cheirar, tocar e, porque não?, conectar-se de forma sentimental com a peça.
Neste trabalho hipermidiático, Olívia propõe que a vida pode brotar em qualquer lugar. Do lugar original, o próprio vaso agora desconstruído na mesa de jantar, passando pelo chão de piso frio. Finalmente, o sofá, aquele mesmo de “Lixo”, recebe duas bromélias. Neste momento fecha-se um ciclo. O fim e o começo dividem o mesmo lugar.
“Bromélia” (flores e plantas) – 2016
Olívia aproveita para, mais uma vez, confrontar o establishment. Ao espalhar sua obra por toda a casa, a artista mostra o verdadeiro conceito de “pocket forest“. Esqueça espécies confinadas e organizadas em pequenos espaços em meio ao concreto. A verdadeira floresta de bolso espalha-se de maneira selvagem pelas residências, sem fazer distinção de móveis e espaços.
Aquilo que foi descartado, empurrado para longe dos olhos, deixa de ser um problema? Qual seria a nossa sensação ao perceber que tudo o que nos incomoda está, subitamente, dividindo o nosso espaço de conforto e proteção? Olívia, a Whippet, extrapola estes significados em seu novo – e grandioso – trabalho, “Lixo”.
Nele, a artista mostra mais uma vez o seu lado visceral e faz uma provocação. No sofá, o conteúdo da lata de lixo: restos orgânicos de todo o tipo, pedaços plásticos, fraldas infantis. Na lata de lixo, o conteúdo simbólico de um sofá: união, conforto, recolhimento, calor humano. O primeiro sentimento é naturalmente de repulsa e talvez um certo estranhamento, algo que só os grandes artistas são capazes de proporcionar. Mas essa é a ideia. Conviver novamente, e de maneira forçada, com o que consumimos e descartamos, em todos os seus tamanhos, texturas e odores. Lembrar que somos também aquilo que deixamos para trás e os excessos e desperdícios da vida moderna.
Como não poderia deixar de ser, o awareness social da artista está presente nesta obra. Se em um sofá estava todo o lixo orgânico, em outro estava todo o isopor. Uma lembrança da importância da coleta seletiva para o nosso planeta.
Olívia também deixa uma pequena surpresa, perceptível através do olhar mais atento. Escondido sob papel-toalha, vemos um osso de brinquedo feito de borracha azul. Uma lembrança de que a arte pode ser simultaneamente contestadora e lúdica.
Nem sempre voltar nosso olhar para o comum é sinônimo de subserviência ao status quo. Pelo contrário! Um novo ponto de vista nos permite conhecer novos significados, desta vez, sob a ótica da artista. E é isso que Olívia, a Whippet, nos apresenta em “Quinas”.
“Quinas” (Compensado, tecido e espuma) – 2016
Neste trabalho, Olívia traz, sob a luz de sua arte, uma nova representação de um standard canino: o ato de roer móveis. Ao trabalhar simultaneamente no apoio de braço do sofá cinza e no banquinho de centro branco, a artista chama a atenção para os contrastes e conflitos entre o tecido e a madeira, e a complementaridade do cinza e do branco. Ou seja, não há zona de conforto na semelhança ou na diferença e não há material que não possa ser utilizado.
Este trabalho também mostra uma nova fase da artista, mais visceral e rebelde. Nesta obra, Olívia utilizou apenas seus novos dentes molares. E, não satisfeita com o trabalho apresentado, resolveu finalizar a quina de madeira enquanto seus donos estavam na sala. Estupefatos, eles interromperam a performance de maneira peremptória.
Finalmente, o uso de matérias-prima maiores reforça que a inquietude e megalomania dos grandes artistas estão presentes em Olívia. O futuro parece promissor.
O SXSW é mais legal com as pessoas que você conhece no caminho. E eu conheci várias pessoas legais em Austin. Conheci o Fabrício no hostel e conheci Gabriela e Carol, que trabalham com minha irmã, em uma cerveja de fim de dia. Cada um traz outras pessoas junto, e quando vemos, temos um grupo legal de pessoas. E cada um vive e acompanha o festival de uma forma diferente.
Na resenha da cerveja, a certeza de o SXSW é mais legal quando é compartilhado. 🙂
Craft Pride, bom bar onde batemos ponto com alguma frequência.
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SXSW Interactive – Dia 3 – 13/11
Comecei o dia no painel do time de mídias sociais da CIA. Trabalho primoroso, especialmente se considerarmos as limitações que o time sofre. Carolyn Reams, a “xocial media” e Preston Golson, chefe de comunicações, falaram que a decisão de agência para entrar nas redes sociais foi baseada no fato de que as conversas acontecem com e sem eles. Com base nisso, começaram a moldar a estratégia. Carolyn trabalhou no museu da CIA e usou essa experiência para identificar o público em três categorias: Quem fica na borda (Skimmers), quem nada (Swimmers) e quem mergulha (Divers). Para quem fica na borda, a história tem que ser contada em poucos tweets, com fotos ou gráficos. Os nadadores querem um link para o site da CIA, onde estará toda a história. Finalmente, para os mergulhadores, as histórias precisam de uma leitura complementar: artigos, textos e afins.
Não apresentaram nada inovador, mas foi um super caso de como fazer bem-feito. Algo que não é comum hoje.
We can neither confirm nor deny that this is our first tweet.
Depois vi uma palestra sobre atenção, percepção e memória e o impacto da tecnologia nestes aspectos. Por exemplo, GPS em carros atrapalham nosso senso de localização, mas o auxílio de estacionamento aguça nossa percepção espacial. Porém, achei super interessante o conceito de “cegueira não-intencional” e a “satisfação da busca”. Em um teste conduzido com agentes de segurança em Raios-X de aeroportos, grande parte enxergou uma garrafa d’água nas bolsas e, inconscientemente, deixaram passar uma arma. A mesma coisa acontece com radiologistas que ficaram tão focados em achar doenças e anormalidades que não viram, por exemplo, um gorila desenhado nas chapas. Bem curioso.
De lá, corri pro Four Seasons e vi uma discussão sobre a Fórmula E, campeonatos de jogos virtuais – com números absurdos!! – e a transição de jogadores do mundo virtual para o real. Esse painel foi escolhido a dedo, porque eu gosto muito da Fórmula E, o campeonato de carros elétricos da FIA.
Fiquei impressionado com os números atingidos pela Electronic Sports League. Foram 870 mil partidas assistidas, o que equivale a 9,7 bilhões de minutos. A Liga distribuiu 8,4 milhões de dólares em prêmios. Ou seja, é um negócio considerável e que começa a atrair olhares. Os executivos da F-E, por exemplo, estão estudando uma forma de mesclar os pilotos virtuais com os reais, adicionando mais uma camada de interatividade ao campeonato. Com sorte, pode sair mais um Jann Mardenborough, piloto inglês que ganhou a GT Academy, programa da Nissan com a PlayStation e hoje integra o time de pilotos da montadora.
Na volta para o Centro de Convenções tentei assistir a entrevista do Anthony Bourdain, mas enfrentei a maior fila que já vi na história das palestras e não logrei sucesso. Então, entrei na sala ao lado para ver Ronda Rousey e Odell Beckham Jr, wide receiver do NY Giants. O tema era “atletas sem amarras”, mas vimos o contrário. Imaginei que seria uma entrevista sobre a relação de atletas com a mídia, como eles podem ser autênticos e tal, mas errei. Foi uma ação promocional do Uniterrupted, uma plataforma de relações públicas para atletas, onde eles postam seus vídeos e afins. Bobagem total. (Está aqui para quem quiser ver. Sem embed só de raiva mesmo).
Fechei o dia com uma pesquisa que tenta identificar padrões de violência com armas de fogo através das redes sociais. Trabalho feito na marra por conta da falta de dinheiro para pesquisas sobre o assunto. E vou falar somente sobre isso aqui.
As instituições e fundações que financiam pesquisas sobre violência com armas de fogo disponibilizam anualmente apenas dois milhões de dólares para isso, enquanto o Instituto Nacional de Saúde consegue 21 milhões de dólares apenas para pesquisas sobre dor de cabeça. Além disso, existe falta de dados sobre as ocorrências. Podemos traçar um paralelo com as mortes em acidentes de trânsito nos Estados Unidos (e são 38 mil/ano por lá). Praticamente todos os dados imagináveis são coletados, desde o perfil e lesões das vítimas, passando pelo modelo do carro, até as condições climáticas do dia. Desta forma, foram feitas políticas, leis e iniciativas para aumentar a segurança nas ruas e estradas, reduzindo as mortes em 27% desde os anos 70. Simplesmente não existem esses dados quando falamos de armas de fogo.
A ferramenta desenvolvida ainda está em fase de testes, mas a palestra bem bacana e acho que vale a pena vocês assistirem também:
No fim do terceiro dia começa a bater um cansaço e a tendência é colocarmos o pé no freio e selecionar bem as palestras para os dois dias restantes.
Como disse, essa viagem foi recheada das primeiras vezes. Uma delas foi dormir em um hostel. Nunca tinha feito isso e, claro, estava um pouco ansioso com a situação. Tentei hotéis – tanto pelo sistema de reservas do SXSW quanto por fora – e quartos no AirBNB dentro da equação preço x distância do Centro de Convenções, mas a conta não fechava. Aí achei o Drifter’s Jack Hostel, perto da Universidade do Texas e a pouco mais de dez minutos do centro de ônibus.
Foi interessante para conhecer gente nova e que parecia comigo. Nas primeiras noites, meus companheiros de quarto eram cinco jovens na casa dos 20 anos. “Vai ser foda”, pensei, até conhecer Eduardo no primeiro café da manhã. Português que também havia caído de para-quedas no hostel. Mais ou menos da minha idade, também com saudade da esposa, também achando o público jovem demais e viajando junto com um amigo para resolver coisas do doutorado. Deu uma amenizada.
Mas, o que mais me incomodava – e imagino ser o sentimento comum em hostels – era a falta do “meu” espaço. Fazer a minha bagunça, deixar as coisas espalhadas no banheiro, as roupas do meu jeito. Isso não existe. Mas eu estava indo bem, até a noite de 9 para 10/3. Gripado, havia passado para a parte debaixo do beliche e com companheiros novos de quarto, simplesmente não consegui dormir. Acordava assustado e fui pegar realmente no sono quase às 4 da manhã. Foi tipo um balde de água fria na motivação.
Na noite do dia 10, descobri mais um “dos meus” no hostel através da lista de whatsapp criada para o SXSW. Fabrício Vitorino, jornalista, primeira vez no SXSW e perdido igual eu. Saímos junto com o portugueses pra tomar uma cerveja. Foi o balde de água quente na motivação. Fui entender esses sentimentos todos no keynote do segundo dia do SXSW Interactive.
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SXSW Interactive – Dia 2 – 12/Mar
A regra era continuar na busca das coisas que eu não sei. Então comecei o dia vendo uma palestra sobre negociação com Richard Shirley, sargento da polícia de Austin, Kathleen Hessert, consultora de comunicação e a autora do discurso de aposentadoria do Peyton Manning e Andria Vidler, ex-executiva da gravadora EMI. É uma das belezas do SXSW, colocar pessoas totalmente diferentes para falar da convergência de um assunto. E a negociação, seja em uma ocorrência policial ou no contrato de um novo artista, segue os mesmos princípios: trabalhar a escuta ativa, colocar-se no lugar do outro e, ao falar qualquer coisa pensar o que isso significa para o ouvinte e porque ele se importaria.
Aí ví a palestra meia-boca do dia, sobre o poder das hashtags. Sim, existem palestras e painéis meia-boca no SXSW. Basicamente falou o que todos nós sabemos: hashtags são importantes, mas não se sustentam sozinhas. Ou, a mesma hashtag tem significados diferentes em cada plataforma. Por exemplo, #Ferguson no twitter era utilizada para reportar o factual. Já no instagram, ela era utilizada para postagens mais gerais sobre questões de raça e desigualdade. De relevante somente o fato de que as redes sociais estão aumentando o engajamento cívico e político nos Estados Unidos.
Almoço rápido para ver, em seguida, uma mesa sobre inovação nas cidades com Kevin Johnson, prefeito de Sacramento, Richard Berry, prefeito de Albuquerue, Jen Consalvo, CEO da Tech.Co e Tynesia Boyea-Robinson, diretora da Collective Impact. Duas cidades tão diferentes e com algo em comum: a vontade de tornarem um hub para start-ups e inovação. Muitas ideias progressistas e uma preocupação real com a diversidade. Primeiro, uma nova definição sobre Infraestrutura. Não estamos falando de fazer ruas e calçadas, mas investir também em conexão de dados de qualidade, distribuição inteligente de energia e criação de espaços para que as empresas apareçam. Johnson disse que não deve-se esperar que o Google apareça na sua cidade e crie 5 mil empregos como em um passe de mágica. Estes empregos aparecerão com a criação de empresas locais, que irão pagar impostos e fazer o sistema ser sustentável.
Sobre diversidade, vários pontos válidos. É ponto comum que a diversidade é o caminho inteligente para o sucesso. Por isso, devemos entendê-la como uma normalização baseada em sua população, ou seja, ver a mesma representação e distribuição das ruas dentro das empresas. E finalmente, enxergar as minorias como bens, não como déficit. Foi um painel tão progressista que fiquei imaginando como seria ofensivo para o pensamento tradicionalista do gestor público brasileiro padrão. Falaremos mais sobre diversidade mais pra frente.
Keynote do dia: Brené Brown. Em vídeo porque a sala lotou. Muito, muito reconfortante. Brené estudou a vulnerabilidade das pessoas e ficou conhecida após falar no TEDxHouston sobre o assunto. Achou que tinha sido horrível, mas fez o maior sucesso. E ela falou mais sobre o assunto no TED Conference de 2012. É uma pena que sua keynote ainda não está no YouTube. Foi fundamental para mim, porque entendi, finalmente, todos aqueles sentimentos do hostel em apenas duas frases. “De vez em quando, precisamos escolher coragem ao invés de conforto” e “Vulnerabilidade não é fraqueza”. Toda essa operação SXSW significava, para mim, que eu havia escolhido coragem ao invés de conforto. Pena que eu havia entendido a dimensão dessa decisão tão tarde. Outra dica que aprendi com ela: sobre nós mesmos e nosso trabalho, preocupe-se apenas com a opinião de cinco pessoas. Mais do que isso é pedir para sofrer.
Brené Brown
Corri pra uma palestra que estava lotada, então resolvi saber se “excelentes atletas precisam ser boas pessoas“, com Katie Nolan, apresentadora da Fox Sports, Kevin Demoff, COO do Los Angeles Rams, Evan Rosenblum, editor do TMZ Sports, e Erik Burkhardt, agente esportivo. Composição interessante, porque você tem todos os lados envolvidos, o cara que paga o salário do jogador, dois veículos de mídia totalmente opostos e o agente. A resposta curta para o título do painel: depende. “Não dirija bêbado, não bata na sua esposa. Os fãs esperam dos jogadores as mesmas coisas que esperam de seus familiares e amigos”, disse Rosemblum. Já Burkhardt foi mais cético e acha que os fãs não se importam muito com o comportamento dos atletas. “É importante, mas não é fundamental. O fã não compra ingresso somente por bom comportamento”.
A postura da TMZ também foi questionada. Rosemblum disse que não se importa se os jogadores fazem coisas certas ou erradas, ele está interessado somente na história. No entanto, as histórias ruins dão mais audiência, naturalmente. “Mas há uma linha de privacidade que a gente respeita. Embora não seja uma regra estabelecida, você analisa a situação e faz seu julgamento sobre publicar ou não a matéria”, disse.
Fechei o dia com a palestra de Jim Bankoff CEO da Vox Media, empresa-mãe do Vox, The Verge e afins, sobre como construir a empresa de mídia do futuro. Eu tenho um caso de amor sério com os produtos da Vox Media, especialmente o Vox. Bankoff explicou porque a empresa trabalha seu portfólio com marcas diferentes para cada editoria, ao invés de uma grande marca com várias editorias. Ele acha que as pessoas se identificam mais rápido com as marcas, ou seja, se eu quero saber sobre gastronomia e comida, vou direto ao eater.com, ao invés de ir numa sub-seção do UOL, por exemplo.
A operação consegue ser viabilizada através de publicidade, naturalmente, e através de eventos, propriedade intelectual e no desenvolvimento de branded content, plataforma e tecnologias. Sobre publicidade, eles disponibilizam o conteúdo das oito editorias além de todos os dados de utilização dos sites em uma única plataforma. Nela, os anunciantes podem escolher a melhor forma de colocar o dinheiro.
Já no final da entrevista, quando perguntado sobre o que teria feito diferente no começo do Vox Media, Bankoff disse que teria feito uma equipe e uma cultura mais diversa. Das 200 pessoas que foram contratadas nos últimos dois anos, 58% são mulheres e 27% são não-brancos. “Mas no começo, na correria para lançar produtos e serviços, acabamos contratando ‘o de sempre’ e agora estamos modificando isso”. Vale a pena ver o painel inteiro.
Aproveitei o fim do segundo dia para conhecer mais pessoas legais, tomar boas cervejas, e tentar ficar um pouco mais inteligente. Depois que entendi o significado da minha ida, tudo ficou mais fácil. 🙂
Antes de falar do SXSW, vamos falar sobre como eu acabei indo parar lá. Ouvi falar do SXSW no começo de 2012. Pouco tempo depois, fizemos uma edição do Ainda Sem Nome totalmente dedicada ao festival. O Walteen havia acabado de voltar de Austin e foi nosso convidado na época. Meus olhos brilharam e todo ano eu tentava ir, sem sucesso. Esse ano, as benesses da autonomia e de ser dono do próprio negócio foram fundamentais.
Programei a viagem para englobar o SXSWedu e o SXSW Interactive. Não sem uma dose de irresponsabilidade, claro, principalmente por conta do dólar alto e o fato de ter reservado tudo em cima da hora, para os padrões do SXSW. Comprei a passagem e reservei o hostel (pela inexistência de hotéis ou camas no Airbnb por preços razoáveis) no meio de janeiro. Foi a viagem das primeiras vezes: Em Austin, no(s) SXSW, e dormindo em um hostel.
Para a minha sorte, já cheguei com guia: Jules, irmã da Elizabeth, um dos presentes da equipe da WorldSkills São Paulo 2015. Jules foi a melhor companhia e guia que alguém poderia ter em Austin. Logo de cara, me mostrou um pouco da cidade e as coisas que importam para esse que vos escreve: o supermercado e onde poderia comer bem. Além do mais, é sempre bom ter um apoio nesses momentos de descoberta.
Hope Outdoor Gallery – Austin
Black’s BBQ – Austin
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SXSW Interactive – Dia 1
Há algumas dicas a serem seguidas no SXSW: tente montar sua agenda antes, veja os guias que os veteranos fizeram para este ano, busque as palestras e paineis que você não sabe nada sobre. Fiz um pouco de tudo, tentando mesclar assuntos que tinha interesse com coisas que eram completamente desconhecidas.
Dessa forma, comecei o primeiro dia no “New World of Photography and Visual Storytelling“, painel da NatGeo onde Joel Sartore, um de seus fotógrafos consagrados, falou sobre o Photo Ark. Sartore fez uma extensa coleção de diversos animais que correm risco de extensão e disponibilizou as fotos para utilização livre, tentando criar uma sensibilização sobre a situação. O conteúdo é utilizado nas redes sociais da NatGeo (são 250 milhões de seguidores nos diversos canais), revistas, outdoors e até em uma projeção mapeada no Vaticano. “Passar por esse planeta, não fazer nada e deixá-lo como está é uma absoluta perda de tempo”, disse Sartore. O painel ainda foi uma aula da NatGeo sobre cobertura de acontecimentos e a utilização de material nas redes sociais. Um dos exemplos foi o caso da falta de água em Flint, Michigan. Durante as perguntas e respostas, vi a social media da NASA fazendo uma pergunta absolutamente trivial para o social media da NatGeo. Foi o suficiente para a minha síndrome do impostor ir para o ralo.
Depois vi a entrevista de Adam Silver, comissário da NBA. Quando a gente faz uma comparação direta com o presidente da CBF, dá vontade de chorar. A visão de negócio, de mídia e de futuro de Silver são de impressionar. Um dos pontos abordados foi a possibilidade de uso da realidade virtual como produto. Todos sabemos que os assentos ao lado da quadra são poucos e disputados e o Jack Nicholson não vai abrir mão da cadeira dele, ao lado do banco do Lakers, para nós. Mas, de repente, o espectador em casa pode assistir ao jogo daquele lugar, através da realidade virtual. Outro ponto falado foi a produção de conteúdo pelos jogadores e a liberdade dada para isso. “Eu tenho acesso a vários lugares, mas nunca vi algo como o conteúdo produzido por Lebron James“. Nas perguntas dos presentes, Silver foi obrigado a responder se Seattle terá um time novamente no futuro. “Preciso tomar conta da saúde financeira dos 30 times da liga”, tergiversou. O painel inteiro está aqui:
Pausa rápida pro churrasco promovido pela organização, e que eu havia comprado junto com minha inscrição. Não sei se faço isso em 2017, mas foi bacana ver que as oportunidades de conversa acontecem até em uma mesa compartilhada. Conheço um produtor de trilhas sonoras para filmes, nascido em Chicago e que fez o ensino médio em Porto Alegre, em 1981. “Que época maluca, aquela. Reabertura política, discussões para todos lados, até na mesa de jantar. Parece que hoje está assim de novo, é verdade?”. Quase. 🙂
Corri pra ver um chef falando sobre a alimentação dos índios norte-americanos, mas fiquei pouco, porque queria ver a cereja do bolo do dia: Barack Obama. Obviamente em vídeo, já que não tinha sido sorteado para o painel em si. Que homem, senhoras e senhores, que homem! Basicamente, Obama falou dos desafios do governo na área de tecnologia e como a população, o setor privado e as organizações sem fins lucrativos podem ajudar a resolvê-los. O presidente afirmou que o público do SXSW é fundamental para resolver três problemas:
1) Como o governo pode funcionar melhor com tecnologia e plataformas digitais. Desburocratizando processos, melhorando a relação entre governo e população, porque, segundo Obama, um sentimento anti-governo cresce quando o cidadão não é bem servido.
2) Resolver os grandes problemas de jeitos diferentes.
3) Usar big data, análise de dados e tecnologia para tornar a participação popular mais fácil. Por exemplo, aumentar o número de pessoas que votam nas eleições.
Obama também falou sobre a disputa FBI x Apple. Embora não possa opinar sobre a questão em si, ele pontuou que devemos abrir concessões em nome da segurança, de modo que nossos telefones celulares não podem ser dispositivos sagrados e fechados, sem nenhum acesso externo. Polêmico, mas é um ponto. Recomendo assistirem tudo:
Na mesma sala, logo em seguida, a inteligência e tecnologia do carro autônomo do Google. Muito foda, sob várias óticas. Primeira, a segurança: 38 mil pessoas morrem anualmente em acidentes de carro nos Estados Unidos, o que equivale a um 737-800 caindo por dia durante os dias de semana no mesmo período. Não aceitaríamos isso na aviação, mas aceitamos no trânsito. A segunda: proporcionar mobilidade para aqueles que não podem dirigir. A terceira, a da tecnologia: os carros dirigiram mais de 2 milhões de quilômetros com pouquíssimos incidentes. O carro checa o que acontece ao seu redor dez vezes por segundo, com lasers e sensores. Um trabalho sensacional. Um arco abriu na minha cabeça com esse painel, que só foi ser fechado uns dois dias depois. Ele, o painel, também está no YouTube:
Terminei o dia vendo teorias sobre “a nova interface homem-máquina no futuro do trabalho“. Basicamente, John Underkoffler, CEO da Oblong Industries e o cara que desenvolveu as interfaces de Minority Report, sugere pensarmos o mundo como uma grande Interface do Usuário (inclusive ele falou sobre isso em um TED em 2010). Underkloffer mostrou alguns projetos que estão sendo desenvolvidos na Oblong e falou que, dentro do escritório, a última grande quebra de paradigma em UI foi o Mac. Curioso também saber que Minority Report ainda é uma referência sobre Interface do Usuário, 14 anos depois do lançamento do filme.
Do Centro de Convenções fomos para o Craft Pride, bar com excelentes cervejas locais, para o happy hour dos brasileiros. O saldo do primeiro dia foi a sensação de que vi coisas super legais, ao mesmo tempo que outras mil igualmente interessantes ficaram pra trás. Mas trabalhar o seu FOMO (Fear of Missing Out) é a tônica do SXSW.