A versão 1.2 do Samuel veio com uma nova e importante funcionalidade: andar sozinho.
Ele já caminhava segurando com firmeza os dedos dos adultos. E isso deixou duas atividades matutinas mais divertidas: comprar pão e levar Stella, a whippet, para passar o dia no pet shop. Saímos do prédio, atravessamos a rua, “pouso” o rapaz na calçada seguinte e vamos caminhando lentamente. A mãozinha direita nos meus dedos esquerdos, a mãozinha esquerda apontando os “Cá”(rros), as “Mó”(tos), os “Au-aus” (cachorros, só para manter o padrão da escrita) que passam pela rua e cumprimentando as pessoas, porque Samuel é um boa praça.
Há quase duas semanas, no entanto, ele decidiu que consegue caminhar sem precisar segurar nossos dedos. Sozinho, sai caminhando pela casa com os bracinhos pra cima. “Como um corredor prestes a ganhar a maratona”, disse o Celinho no grupo de whatsapp dos amigos de escola. Um pouco de independência, folga para os braços e coluna dos adultos e confiança no processo. Algo mágico vai proteger sua cabeça das quedas e esbarrões.
Os passeios da manhã continuam seguem o mesmo procedimento, com a diferença que deixo ele caminhar pelo hall e corredor do prédio. Na rua, andar de mãos dadas é imperativo e continuará sendo pelos próximos anos. Mas isso não impede, no entanto, de termos algumas surpresas no caminho.
Outro dia, voltando da padaria, ele ficou encantado com a fonte do prédio da esquina. Parou de andar, apontou para para o topo enquanto falava “áua, áua” e foi se aproximando de mim, pedindo colo para ver a fonte mais de perto.
No dia seguinte, enquanto voltava do pet shop, tentou se desvencilhar da minha mão para dar um rolê no supermercado. Não deixei, ele reclamou e começou a chorar. 30 segundos depois, ficou ainda mais bravo quando peguei ele no colo. Ele queria atravessar a rua caminhando.
Se eu levar em consideração o meu histórico, é provável que ouvirei do Samuel exatamente o que falava para meus pais quando era contrariado aos cinco anos de idade. “Nunca mais vou ao shopping com vocês! Nunca mais saio para tomar sorvete com vocês”.
Um lembrete pra mim mesmo sobre como é desafiador aprender (e ensinar) sobre expressão de sentimentos. Um passinho de cada vez.