A ponte

19 de dezembro de 2024
Posted in Cabeça
19 de dezembro de 2024 Felipe

A ponte

Outro dia, Tito leu algo como “Não se preocupe em queimar pontes, decisões irreversíveis tendem a ser mais satisfatórias, porque agora há apenas um caminho a percorrer: aquele em direção à decisão tomada”. Parecia fazer sentido à decisão tomada anos antes: eliminar algo descoberto por acaso, que dormia e acordava com ele. De maneira sorrateira, um dia resolveu aparecer.

De certa forma, a outra opção era esperar a ponte ser queimada antes da sua chegada, de modo que a toda a sua boa vida de cortesia, de sorrisos e afagos sinceros mas que escondiam dores e angústias, acabariam ali.

E por isso, parar ou a ideia de parar, fez Tito continuar, passar a ponte e depois queimá-la. Isso resolveria um problemão, isso seria a garantia de que tudo ficaria joia, certo e garantido no futuro.

Sua aposta, aliás, seria errado dizer aposta… sua decisão quase passiva de atravessar e queimar deu meio certo. O problemão foi resolvido, mas o futuro (ou o presente) é (são) tão incerto(s), que as dores e as angústias persistem. Ou se amplificam, quando Tito pensa em quanto tempo resta, o que pode ser feito na vida, como prover e retribuir todo o carinho que recebe.

Ninguém tem essas respostas, na real. E poucas pessoas podem viver essa vida “de fronteira”, experimentar – a contragosto – a ideia do rompimento da continuidade da vida, ser de antes e de agora, olhar pra trás estando (ou querendo estar) à frente. Muitas vezes, um estrangeiro no próprio tempo. À época, Tito achou que já havia falado tudo o que era possível sobre a ponte queimada.

O que ele realizou é que só está começando.

(Foto em Colônia do Sacramento, 2022)

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