Mais uma reflexão do que uma conclusão, mas que gostaria de compartilhar.
Dia 45 pós primeira cirurgia e a recuperação tem sido excelente. Tirando o enjôo da primeira semana, a disposição vai voltando aos parâmetros antigos, seja no sono, memória, disposição e afins. É algo absolutamente incrível, penso, porque parece que nem passei por uma cirurgia desse tamanho. E somado aos bons resultados até agora da biópsia, a perspectiva de voltar ao ritmo normal fica cada vez mais próxima.
Mas aí tem uma pegadinha. O que é voltar ao ritmo normal? É aquele que mencionei no segundo texto? Ou seja, determinar cobranças absurdas, não ser gentil comigo, achar que preciso provar algo para alguém, tendo como pano de fundo algo do tipo “nossa, me recuperei tão bem que será fácil voltar pra vida de antes, a vida normal“.
Não, Felipe, mil vezes não. Esse não é o pensamento e nem deveria ser. Mas ele tem morado na minha cabeça, e foi motivo de muita conversa e reflexão na última semana. Mas agora percebi que alguns dos sentimentos recorrentes não tem a ver com “stress pós-traumático”. Tem a ver com tentar encaixar a nova vida aos parâmetros antigos.
Isso acaba tendo reflexo nas coisas que tenho sentido: o alto grau de ansiedade, achar que a inteligência emocional havia regredido alguns anos e me achar um forasteiro nos círculos profissionais.
Tenho uma hipótese para o que está acontecendo. Aliás, tenho duas. A primeira delas é que vivo novos parâmetros para o que é uma vida normal. Novos combinados, hora de rever prioridades, especialmente porque ainda estou em recuperação. Isso significa que não posso cair na tentação de querer voltar ao que eu era, especialmente porque tive uma recuperação muito boa.
A gentileza e o carinho que tive comigo, que percebi durante o período antes da cirurgia e foram super importantes pra mim, precisam guiar o “novo normal”. Principalmente, tem que acabar com a segunda hipótese, que é ficar cego para as novas possibilidades que o novo normal me apresenta.
Isso significa conhecer lugares e estados desconhecidos e essa exploração pode ser desconfortável. Pra fugir dela, insisto, é tentador acelerar a volta e querer estar no estado de antes.
De novo, não. São outros tempos.
Cleuza
Que maturidade, preciso aprender algo com vc!!!Ler seus textos me faz bem mas ao mesmo tempo me enche de culpa pelo que faço comigo há anos, bju p vc
Lorenna
Devorando os seus textos, e vejo tudo isso em mim tb.