Essa foi a minha terceira WorldSkills, a segunda sendo membro do Secretariado Estendido e pra mim, foi a melhor delas. Diferente de Abu Dhabi, já estava adaptado ao fuso horário, cheguei uns dois dias antes no local da competição e principalmente, estava em paz comigo mesmo. A experiência costuma ser uma coisa linda.
Novamente, é possível tirar várias lições dessa estrutura da WorldSkills, que sai de 21 para mais de 150 pessoas durante a competição. E como fazer isso da melhor forma possível?
Do lado da WorldSkills, imagino que seja um misto de planejamento e confiança. Esse processo começa uns oito meses antes da competição em si, com um processo seletivo. Você preenche um formulário falando da sua experiência, o que faz e quais funções gostaria de exercer. Nisso, são mais quatro meses até a definição das pessoas e das funções. Ou seja, você chega sabendo o que vai fazer. No entanto, é importante ter em mente que eventos são voláteis, incertos e tudo pode mudar.
Por isso, do lado de quem chega para ajudar, existem algumas regras de ouro. A primeira delas é ser uma pessoa legal. É um evento gigantesco e de tiro curto, vamos ficar juntos pouco mais de 10 dias e uma atitude positiva é fundamental. Ninguém tem tempo para melindres ou cara fechada.
(Pausa para um caso que se relaciona)
O Diego Mancini tem uma ótima história sobre quando estudava na Los Angeles College of Music e teve uma aula com o produtor do Lionel Richie. Ele foi perguntado sobre qual era o processo de escolha dos músicos para a turnê. E a seleção final era baseada em quem era mais gente boa e fácil de lidar. A justificativa foi algo como: “Nós já sabemos que as pessoas são boas no que elas fazem. Como vamos ficar juntos muito tempo, manter um clima bom é importante”.
(Pronto)
Esse ano, o time de Comunicação e Marketing estava maior, com vários amigos de outros carnavais e muita gente nova se juntando ao bonde. Esse é oficialmente um time de duas pessoas na WorldSkills International: Crispin Thorold, o diretor e Shawna Bourke, a gerente-sênior. Correndo o risco de errar os números, mas vamos lá, Em Kazan, fomos umas 40 pessoas de pelo menos 13 países. São várias funções: coordenação do escritório, coordenação da equipe de vídeo, coordenação do time de fotógrafos e tagueamento das fotos, redes sociais, imprensa, apoio para os patrocinadores e membros da WorldSkills, apoio à imprensa internacional, etc. São culturas, histórias e expectativas diferentes e você precisa entender isso, por isso é importante não complicar as relações.
A segunda regra de ouro é confiar no processo. As coisas mudam rápido, porque um evento desse exige ações rápidas. Então pode ser que você mude de função no meio do caminho, pode ser que você precise fazer algo que não planejava e isso faz parte do jogo.
Em Kazan, fiz um pouco de tudo, entre coisas que gosto e as coisas que tenho medo. Fiz um rabisco do planejamento de redes sociais do evento, a cobertura do programa de conferências, pude contribuir com algumas ideias e conceitos para alguns vídeos e, o mais legal, estar no Winner’s Circle, para onde os medalhistas vão para serem fotografados.

Os bastidores do Winner’s Circle.
O Winner’s Circle é a prova da sintonia no trabalho em equipe. Além do registro em si, essas fotos vão logo para as redes sociais da WorldSkills. O processo funciona dessa forma: os medalhistas eram recebidos pela Lisa Frizzell na saída do palco e conduzidos até o backdrop. Ali, o Jacob garantia a animação dos medalhistas, que eram fotografados pelo Himal Reece, cuja câmera estava conectada no meu computador. Eu editava, exportava a foto para uma pasta compartilhada com o time de redes sociais, comandado pela Jennifer Early, que publicava a foto.
Ainda vou escrever sobre o programa de conferências, que abordou alguns temas super relevantes, especialmente inclusão e diversidade e como as profissões e o ensino técnico e profissional podem ser agentes contra o aquecimento global. Nota: foi a primeira vez que ouvi falar do termo green skills. Eu e a Hayley Uffelman, nos dividimos entre as diversas sessões simultâneas para garantir fotos e tweets. Correria e conteúdo ao mesmo tempo.

Programa de Conferências da WorldSkills.
Um dos pontos altos foi a sessão com o astronauta Scott Kelly e o cosmonauta Sergei Krikalev, conduzida pela jornalista Lyse Doucet. Pensamos as coisas mais modernas e tecnológicas quando falamos da exploração espacial, mas os dois fizeram questão de reforçar que na Estação Espacial Internacional, você precisa das habilidades das profissões mais “triviais” como encanador e eletricista. Além das habilidades sociais que tanto falamos: resolução de problemas, trabalho em equipe e criatividade. De quebra, ainda consegui uma foto com o Scott Kelly.

O astronauta Scott Kelly e eu. 🙂
Por outro lado, precisei acompanhar o tour de imprensa pelo evento e fazer a distribuição de credenciais para as cerimônias de abertura e encerramento. São dois momentos tensos e onde você precisa dizer “não” com alguma frequência. E vocês sabem como eu odeio dizer “não”. De novo, é sempre uma questão de confiar no processo. Quando vi, estava tirando um cameraman de uma área proibida pra ele pela alça da mochila durante o tour.

Parte do tour com a imprensa. Momento de grande tensão nos preparativos da competição.
A terceira regra é estar aberto para conhecer pessoas. E quem está dizendo isso é uma pessoa introspectiva. No final de tudo, poder participar de um evento feito a WorldSkills é poder conhecer gente legal e aprender com elas.
Eu que tanto falo sobre aprendizagem social na 42formas, pude ver – de novo – como isso funciona na prática. Passa por um senso geral de companheirismo e transparência na equipe. É desejável que você fale o que está sentindo, se está tudo bem, se você precisa de algum suporte. Junte isso com a experiência que as pessoas trazem. Tem gente com seis, sete competições nas costas, como a Lisa Frizzell e o Maurice Hillier (dois ídolos desse que vos escreve) e tem gente que chegou agora para a sua primeira competição: Jennifer, Séan e Hayley, por exemplo. O que podemos aprender com essas pessoas e quais práticas a gente consegue levar pro nosso dia a dia e pro nosso trabalho? O bom que esses aprendizados podem acontecer tanto no escritório como nas cervejas após o expediente.
A gente costuma brincar que as competições são como colônias de férias, onde as pessoas se veem após um longo período e colocam as conversas em dia, se divertem, criam vínculos. Dessa vez, como estávamos hospedados no centro da cidade, pudemos beber e comer fora do Skill Out, o happy hour da competição, com roupas de “civis”, o que ajuda a desconectar dos dias longos de trabalho.

Parte do time de comunicação e marketing após a Cerimônia de Encerramento.

O mesmo pub de estimação, mas do lado de fora. 🙂

Dan, Lisa, Maurice e eu no lugar que servia sorvete vegano e café etíope.

Uma das várias cervejas no nosso pub de estimação.
Esgotamos todos os recursos dos vizinhos, a Triple IPA do bar de cervejas locais e o sorvete vegano de chocolate do café próximo ao hotel são bons exemplos, enquanto falávamos sobre trabalho, música, vida, política. É um grupo de pessoas que eu sou muito feliz de poder conhecer e dividir horas de trabalho e diversão juntos.
Desde 2015, a WorldSkills me ganhou no “oi”. Em 2019, continua me ganhando no “oi” e com a troca. Deixo um pouco de mim lá, ganho um tanto de volta.