Sobre pertencimento, autoconfiança, Austin e SXSW

27 de março de 2019
Posted in Divagações
27 de março de 2019 Felipe

Sobre pertencimento, autoconfiança, Austin e SXSW

Esse é um post sobre o que vi e vivi no SXSW esse ano. Na semana que vem, vou publicar algumas coisas no blog da 42formas sobre os aprendizados, tendências e afins.


Esse texto demorou pra sair. Fui e voltei nele diversas vezes, tentando ser justo comigo mesmo nos sentimentos todos que passei nos dias em Austin. Vou para lá desde 2016, é meu quarto ano seguido de SXSW EDU e SXSW Interactive e essa foi a experiência mais rica por larga vantagem.

Todo ano, Austin me dá um presente abstrato. Em 2019, eu ainda não consegui definir se o presente foi “pertencimento” ou “autoconfiança”. Eu estava lá inteiro, de corpo e alma, e acreditando que estava fazendo o melhor trabalho possível. O Marcos não pode ir, eu ia apresentar um painel com a d. Pilar e a Cleuza, iria moderar uma conversa sobre educação e aprendizagem na Casa Brasil. Sem querer (ou sem perceber), joguei a barra das expectativas lá pra cima. Sem perceber, eu consegui atingir essas expectativas. Vamos lá:

Foram nove transmissões ao vivo no youtube, mais uma boa quantidade de postagens nas redes sociais (obrigado, Studio!). Mais do que as métricas de redes sociais, acho que o mais relevante foi conseguir mostrar um pouco do que estava vendo e conseguir pessoas pra ajudar nessa conversa: Miguel Thompson, Cleuza Repulho, d. Pilar, Edu Valladares, Babi Olivier e Nelsinho Santos. Cada um com seu ponto de vista e vivências do SXSW.

Pilar, João Paulo, Cleuza e eu durante o nosso painel.

A nossa sessão foi um sucesso. Cleuza e Pilar, com a ajuda do João Paulo Connolly na tradução consecutiva, conseguiram falar sobre as políticas de educação pública no Brasil. A sala não estava cheia, mas o objetivo era entregar o melhor conteúdo possível para quem estava lá. Foi a nossa contribuição sobre experiência e diversidade para um evento que eu tenho um carinho enorme. O bônus era não passar mal no palco. Consegui as duas coisas. Toda essa experiência merece um post próprio, mas dividir um palco com minha mãe foi uma coisa incrível.

 

Eu, Marcelo Gluz, Conrado Schlochauer e Vahid Sherafat.

A mediação na Casa Brasil foi uma das coisas mais legais que eu tive a chance de fazer. Eu, Marcelo Gluz, Vahid Sherafat e Conrado Schlochauer conversamos sobre educação, aprendizagem e edtechs (ou learntechs, como o Conrado gosta de falar). Mais do que isso, como discutir esses assuntos pensando no Brasil e nas imensas diferenças sociais e culturais que temos. Teve bom público, que contribuiu com boas perguntas. Cada vez mais tenho a certeza de quero facilitar conversas, mediar discussões e conectar ideias. Fica bem mais fácil quando você divide o momento com gente inteligente.

Depois de quatro anos, eu aprendi a conversar com desconhecidos, juntar gente que não se conhece, saber como a dinâmica dessas relações funcionam lá em Austin. É mais um passo no processo de libertação de umas afirmações doidas que coloco na cabeça: “sou tímido”, “não sei falar em público”, “vou falar bobagem”.

Quanta besteira. Quem me viu dançando “Proud Mary” no palco do Pete’s não ia acreditar nessas coisas, como eu não acreditaria que eu poderia subir nesse palco. Estava dançando com amigos e amigas, a banda possivelmente viu e perguntou quem sabia a coreografia da música. Aparentemente, só eu. E pelas metades. Mas fui lá mostrar e a Juliana Wallauer fez o favor de registrar. 🙂

https://twitter.com/jwallauer/status/1105307228985348096?s=08

Falando em amigos e amigas, eis aqui o presente concreto de Austin em 2019: as pessoas incríveis que conheci. Em um cenário onde você fica sozinho e cercado de gente ao mesmo tempo, as pessoas que te cercam são super importantes para te ajudar a entender aquela massa de conteúdo, trazer uma nova perspectiva pro que foi visto no dia ou simplesmente falar bobagem bebendo qualquer coisa no fim do dia.

No entanto, Austin nunca é um passeio no parque. Do mesmo jeito que eu ganho coisas da cidade e do festival, acabo deixando um pouco de mim lá. Varias sessões e situações pareciam ser feitos pros meus dilemas e questionamentos: como o mundo chegou nesse ponto, o isolamento social e a proximidade digital, essa mania de usar a régua dos outros. Fiquei no fio da navalha emocional, encerrei a última live antes da hora porque o choro já passava da garganta.

Talvez seja uma coisa boba falar de choro, mas essa emoção tem a ver com a relação que estabeleci com o festival. Todo ano é assim, intenso, e acho que tudo bem. A in-ten-si-da-de de 2019 pode ter sido maior por conta de tudo que escrevi acima, pelo alívio de ter conseguido entregar o proposto, por ter conhecido e conectado um tanto de gente, tentar absorver tudo o que vi e ouvi.

E, pra terminar, de todas as pessoas queridas que estavam lá, uma em especial me deixou particularmente feliz: o Diego Mancini. Além de ser um dos músicos mais talentosos que conheço, ele é um grande amigo, um dos melhores. Tocamos juntos quando eu ainda morava em BH. Em 2009, juntou coragem e foi estudar na Los Angeles Music Academy, eu me mudei pra São Paulo no ano seguinte e cada um seguiu sua história, seus perrengues e conquistas.

Diego estava lá para tocar com a Fernanda Takai. Logo antes do show, no Driskill Hotel, me deu um abraço super apertado e falou que tava muito orgulhoso de mim, porque viu todo pedacinho da construção que me levou pra lá. Eu sentia a mesma coisa, mas não consegui dizer nada, só que estava orgulhoso dele também. Os olhos estavam marejados e o soluço já estava pronto. Por teimosia e ignorância, eu tinha certeza que ficaríamos com os pés enraizados no chão de minério de ferro de Belo Horizonte. Por pertencimento e autoconfiança, olha onde a gente estava se abraçando agora.

Cada jornada é pessoal e eu acho que Austin foi mais um degrau pra onde quero estar, pro que acredito e para a minha realização. Seguimos!

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