Antes de falar do SXSW, vamos falar sobre como eu acabei indo parar lá. Ouvi falar do SXSW no começo de 2012. Pouco tempo depois, fizemos uma edição do Ainda Sem Nome totalmente dedicada ao festival. O Walteen havia acabado de voltar de Austin e foi nosso convidado na época. Meus olhos brilharam e todo ano eu tentava ir, sem sucesso. Esse ano, as benesses da autonomia e de ser dono do próprio negócio foram fundamentais.
Programei a viagem para englobar o SXSWedu e o SXSW Interactive. Não sem uma dose de irresponsabilidade, claro, principalmente por conta do dólar alto e o fato de ter reservado tudo em cima da hora, para os padrões do SXSW. Comprei a passagem e reservei o hostel (pela inexistência de hotéis ou camas no Airbnb por preços razoáveis) no meio de janeiro. Foi a viagem das primeiras vezes: Em Austin, no(s) SXSW, e dormindo em um hostel.
Para a minha sorte, já cheguei com guia: Jules, irmã da Elizabeth, um dos presentes da equipe da WorldSkills São Paulo 2015. Jules foi a melhor companhia e guia que alguém poderia ter em Austin. Logo de cara, me mostrou um pouco da cidade e as coisas que importam para esse que vos escreve: o supermercado e onde poderia comer bem. Além do mais, é sempre bom ter um apoio nesses momentos de descoberta.
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SXSW Interactive – Dia 1
Há algumas dicas a serem seguidas no SXSW: tente montar sua agenda antes, veja os guias que os veteranos fizeram para este ano, busque as palestras e paineis que você não sabe nada sobre. Fiz um pouco de tudo, tentando mesclar assuntos que tinha interesse com coisas que eram completamente desconhecidas.
Dessa forma, comecei o primeiro dia no “New World of Photography and Visual Storytelling“, painel da NatGeo onde Joel Sartore, um de seus fotógrafos consagrados, falou sobre o Photo Ark. Sartore fez uma extensa coleção de diversos animais que correm risco de extensão e disponibilizou as fotos para utilização livre, tentando criar uma sensibilização sobre a situação. O conteúdo é utilizado nas redes sociais da NatGeo (são 250 milhões de seguidores nos diversos canais), revistas, outdoors e até em uma projeção mapeada no Vaticano. “Passar por esse planeta, não fazer nada e deixá-lo como está é uma absoluta perda de tempo”, disse Sartore. O painel ainda foi uma aula da NatGeo sobre cobertura de acontecimentos e a utilização de material nas redes sociais. Um dos exemplos foi o caso da falta de água em Flint, Michigan. Durante as perguntas e respostas, vi a social media da NASA fazendo uma pergunta absolutamente trivial para o social media da NatGeo. Foi o suficiente para a minha síndrome do impostor ir para o ralo.
Depois vi a entrevista de Adam Silver, comissário da NBA. Quando a gente faz uma comparação direta com o presidente da CBF, dá vontade de chorar. A visão de negócio, de mídia e de futuro de Silver são de impressionar. Um dos pontos abordados foi a possibilidade de uso da realidade virtual como produto. Todos sabemos que os assentos ao lado da quadra são poucos e disputados e o Jack Nicholson não vai abrir mão da cadeira dele, ao lado do banco do Lakers, para nós. Mas, de repente, o espectador em casa pode assistir ao jogo daquele lugar, através da realidade virtual. Outro ponto falado foi a produção de conteúdo pelos jogadores e a liberdade dada para isso. “Eu tenho acesso a vários lugares, mas nunca vi algo como o conteúdo produzido por Lebron James“. Nas perguntas dos presentes, Silver foi obrigado a responder se Seattle terá um time novamente no futuro. “Preciso tomar conta da saúde financeira dos 30 times da liga”, tergiversou. O painel inteiro está aqui:
Pausa rápida pro churrasco promovido pela organização, e que eu havia comprado junto com minha inscrição. Não sei se faço isso em 2017, mas foi bacana ver que as oportunidades de conversa acontecem até em uma mesa compartilhada. Conheço um produtor de trilhas sonoras para filmes, nascido em Chicago e que fez o ensino médio em Porto Alegre, em 1981. “Que época maluca, aquela. Reabertura política, discussões para todos lados, até na mesa de jantar. Parece que hoje está assim de novo, é verdade?”. Quase. 🙂
Corri pra ver um chef falando sobre a alimentação dos índios norte-americanos, mas fiquei pouco, porque queria ver a cereja do bolo do dia: Barack Obama. Obviamente em vídeo, já que não tinha sido sorteado para o painel em si. Que homem, senhoras e senhores, que homem! Basicamente, Obama falou dos desafios do governo na área de tecnologia e como a população, o setor privado e as organizações sem fins lucrativos podem ajudar a resolvê-los. O presidente afirmou que o público do SXSW é fundamental para resolver três problemas:
1) Como o governo pode funcionar melhor com tecnologia e plataformas digitais. Desburocratizando processos, melhorando a relação entre governo e população, porque, segundo Obama, um sentimento anti-governo cresce quando o cidadão não é bem servido.
2) Resolver os grandes problemas de jeitos diferentes.
3) Usar big data, análise de dados e tecnologia para tornar a participação popular mais fácil. Por exemplo, aumentar o número de pessoas que votam nas eleições.
Obama também falou sobre a disputa FBI x Apple. Embora não possa opinar sobre a questão em si, ele pontuou que devemos abrir concessões em nome da segurança, de modo que nossos telefones celulares não podem ser dispositivos sagrados e fechados, sem nenhum acesso externo. Polêmico, mas é um ponto. Recomendo assistirem tudo:
Na mesma sala, logo em seguida, a inteligência e tecnologia do carro autônomo do Google. Muito foda, sob várias óticas. Primeira, a segurança: 38 mil pessoas morrem anualmente em acidentes de carro nos Estados Unidos, o que equivale a um 737-800 caindo por dia durante os dias de semana no mesmo período. Não aceitaríamos isso na aviação, mas aceitamos no trânsito. A segunda: proporcionar mobilidade para aqueles que não podem dirigir. A terceira, a da tecnologia: os carros dirigiram mais de 2 milhões de quilômetros com pouquíssimos incidentes. O carro checa o que acontece ao seu redor dez vezes por segundo, com lasers e sensores. Um trabalho sensacional. Um arco abriu na minha cabeça com esse painel, que só foi ser fechado uns dois dias depois. Ele, o painel, também está no YouTube:
Terminei o dia vendo teorias sobre “a nova interface homem-máquina no futuro do trabalho“. Basicamente, John Underkoffler, CEO da Oblong Industries e o cara que desenvolveu as interfaces de Minority Report, sugere pensarmos o mundo como uma grande Interface do Usuário (inclusive ele falou sobre isso em um TED em 2010). Underkloffer mostrou alguns projetos que estão sendo desenvolvidos na Oblong e falou que, dentro do escritório, a última grande quebra de paradigma em UI foi o Mac. Curioso também saber que Minority Report ainda é uma referência sobre Interface do Usuário, 14 anos depois do lançamento do filme.
Do Centro de Convenções fomos para o Craft Pride, bar com excelentes cervejas locais, para o happy hour dos brasileiros. O saldo do primeiro dia foi a sensação de que vi coisas super legais, ao mesmo tempo que outras mil igualmente interessantes ficaram pra trás. Mas trabalhar o seu FOMO (Fear of Missing Out) é a tônica do SXSW.
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