Atualizado em 04/07, com minha opinião sobre a edição do The Big Picture. É o valor do tempo, te faz mudar de ideia e rever afirmações. Ela está logo abaixo da foto do policial.
Este texto em tese é sobre curadoria, mas não vou contextualizá-la, isso já foi feito com maestria neste vídeo (obrigado, Bruno!). Pra quem trabalha com comunicação digital, esse termo está até batido. De qualquer maneira, eu queria abordá-lo porque ontem eu vi um caso que reforça como ele é importante.
Ontem, algumas pessoas – eu, inclusive – celebraram no Facebook a atualização do The Big Picture com as fotos dos protestos no Brasil. Para quem não conhece, estamos falando de um fotoblog criado por três editores de imagens do Boston Globe. “O objetivo é realçar imagens espetaculares, de alta qualidade, com foco em eventos atuais“, diz o site. Pra mim, eles são referência de fotos boas e grandes quando galerias de fotos boas e grandes não eram comuns.
O fato é que eles fizeram uma seleção e escolheram as 39 fotos mais relevantes do protesto. Todas as fotos são de profissionais brasileiros, ou seja, não estamos discutindo a qualidade dos fotógrafos. Uma das fotos, a da mulher no Rio de Janeiro sendo covardemente atingida por um spray de pimenta, pode inclusive ganhar prêmios, na minha opinião.
Você deve ter visto todas esse material em diversas galerias, seja no G1, UOL, Terra, Uai, escolha o portal preferido. Mas ficaram perdidas no meio de um mar de textos. E convenhamos, veja todas as fotos é bem diferente de veja as melhores fotos dos protestos. Oferecer esta seleção para o usuário é fundamental, porque ela dá a oportunidade de você entender, através das fotos, a história que está sendo contada. Todas as fotos juntas não contam história alguma – mais ou menos como protestar contra tudo, não sobra nada.
No entanto, acho que várias fotos mais impactantes, na minha opinião, ficaram de fora. A foto abaixo é uma delas, muito dramática, com a luz toda em cima do policial se protegendo.
Ela me parece mais fiel às manifestações do que o oba-oba mostrado na maioria das fotos escolhidas pelos editores do site. Eu e a Vivi Andrade, amiga e editora e produtora de fotografia das mais competentes, estávamos conversando sobre esse post. Ela comentou algo bem pertinente, que enfatizaram “a parte nariz de palhaço, cara de guache, etc dos manifestantes “apartidários/ufanistas/perdidos” e deixaram de fora material produzido por gente feito o Renato Stockler aqui em São Paulo e a Nitro Imagens e a Midia Ninja em BH. Aliás, vale o clique na galeria da Nitro, outro exemplo de curadoria fenomenal sobre o evento. São fotos que contam mais a história dos protestos, da violência envolvida e do contexto das manifestações. Essa face do que aconteceu no país é bem mais relevante do que a face do “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” e “vem pra rua vem, contra o governo” retratada pelo The Big Picture, mas esses são meus dois centavos.
Para finalizar
Finalmente, só para reforçar a questão da edição. Recentemente assinei as atualizações do Koci Studios, site de Richard Koci Hernandez, professor assistente em Berkeley, nos Estados Unidos. Lá, Koci oferece conteúdos sobre a produção de conteúdo e storytelling. Em “10 passos para se tornar um mestre no storytelling visual“, ele reforça a importância da tal edição.
É facil retirar as imagens ruins, mas é muito mais difícil perceber quanto do bom material você precisa cortar. Você precisa ser corajoso e é um sinal de destreza quando você segue estas três máximas: 1) Mate as favoritas, 2)Menos é mais, e 3) Na dúvida, tire fora.
Tenho tentado fazer isso com minhas produções, seja em texto ou foto. Corto 2/3 do material, sempre. É difícil, mas é necessário.
No final, apesar de tudo, é isso que o The Big Picture te entrega, é por isso que ele faz tanto sucesso e é referência indispensável para quem gosta de fotojornalismo. Não serão 100 ou 200 fotos de um evento, mas sim aquele terço (ou sexto) mais importante e que faz sentido.
Para vocês, quais são as fotos mais relevantes destes protestos e manifestações?
Marcos Arthur
Meu caro, seu texto é consistente e rico, não só pela abordagem, mas também pelas referências. Falando em curadoria (o termo pode até estar batido, mas é necessário – na verdade, isso é pano pra outra discussão, eheheh…), eu diria que você de fato reuniu conteúdo relevante para um número significativo de pessoas (entre as quais eu me encaixo). Porém, confesso que ficou uma pontinha de dúvida (e não sei se isso é fruto das nossas conversas sobre o assunto) a respeito da maneira como tratou o assunto curadoria x manifestações, pois, em alguns momentos, você parece demonstrar um certo posicionamento em relação a estas por meio do post. A intenção era essa mesmo ou viajei? Por fim, depois de todo o material que você já colocou aqui, fica até difícil responder à sua última pergunta, até mesmo porque imagens relevantes não faltam. Se eu for mais uma vez para o lado da curadoria, o interessante é ver o contraponto entre o The Big Picture, que mostra fotos incríveis – mas talvez pareça contar a história de forma mais “romântica” – e o ensaio da Nitro, que claramente mostra o “conflito in loco” – muito bem traduzido, ao meu ver, na frase do João Marcos que está no final do texto deles.