Na semana passada*, acompanhei parte do MediaOn via streaming. Era um evento que eu gostaria de ter participado, mas a cabeça de vento aliada ao fim do ano me fizeram esquecer totalmente. Enfim, durante a primeira palestra vejo esta pergunta na caixa de comentários da transmissão:
Com a popularização da informação volta o valor da profissão de jornalista, para filtragem e qualidade da informação?
Pensei em uma resposta curta e irônica, fosse eu o palestrante. Algo como “Essas coisas nunca foram relacionadas, porque seriam agora?” Tirando o escárnio, a minha opinião não muda. Mas podemos analisar isso por diversos pontos de vista. Aliás, antes de tudo, é até engraçado o termo “popularização da informação”, é bonito. Provavelmente a ideia do comentarista era falar que agora todos nós somos jornalistas ou qualquer um pode produzir informação. É isso também. “Popularização da informação” significa que todos podem produzir e também que todos podem consumir informação, o que é muito bacana.
Voltando ao ponto, acho que “Popularização”, “Filtragem” e “Qualidade” não andam de mãos dadas. Mesmo quando ser Jornalista era uma função importante e valorizada**, aconteciam casos e casos de informação com baixa qualidade. Isso não muda, até hoje é assim. Independente da formação, do diploma ou do veículo, o fato do cara ser jornalista não significa que a sua informação tem mais relevância ou qualidade do que a de um blogueiro ou de um popular que fotografou um acontecimento na rua, por exemplo. Claro, não estou generalizando. Só estou dizendo que o jogo está um pouco mais parelho hoje. Para algumas coisas, prefiro confiar na informação de blogs e até mesmo no twitter. Conteúdos escritos por pessoas feito eu. Para outros, recorro aos jornalões.
Talvez o comentarista queria dizer que o jornalista voltou a ser valorizado porque é preciso ter uma curadoria de conteúdo colaborativo. Pode até ser, mas para isso já existem os editores. E ainda assim, eventualmente algum cara ainda comete algum deslize. De qualquer maneira, acho que essa filtragem, o famoso gate-keeping (a palavra que o Caio mais curte) agora pode ser feito pelo leitor. Nenhum editor precisa dizer qual notícia é digna de veiculação ou não. O leitor faz esse trabalho, escolhendo as fontes que mais te interessam.
Se a qualidade da informação mudar com a sua popularização, não vai ser por causa da profissão de jornalista. Vai ser por sua obrigação de conseguir contar uma história mais próxima da realidade, mais próxima da que foi contada por populares com seus telefones com câmeras ou por aqueles que registraram seu ponto de vista em seus blogs ou redes sociais.
Finalmente, o Pedro Díria disse que a “qualidade do jornalismo é essencial para evolução de novas plataformas“. Também. Mas é mais essencial para a evolução do pensamento crítico da sociedade como um todo.
São só meus dois centavos.
* Precisava matar logo esse post. Começou com “hoje”, passou pra “ontem” e foi pra “na terça”. Mais um tempo seria “muitos meses atrás” e aí já teria perdido o bonde.
** Lembrem-se daquelas definições dos Cafés dos anos 50: Ponto de encontro de intelectuais, políticos e jornalistas.
Guilherme
De acordo com o nobre colega. A filtragem sempre foi individual e caberá SEMPRE ao leitor fazer suas escolhas – e assumir a responsabilidade por elas. O jornalista tem técnicas para relatar um fato que aceleram o trabalho de reportar fatos, mas a credibilidade nunca foi um mérito que vem com o diploma. Vem com trabalho e transparência.