Morre, aos 82, o ex-governador do Rio Leonel Brizola
Sabe aqueles caras que você respeita, mas não sabe porque? Então, o Brizola era assim. Não acompanhei com afinco a vida política do “Engenheiro”, mas toda vez que eu via suas entrevistas, eu sacava como ele era foda. Agora já era, mais um dos bons que vai.
caio cesar
cabeça caindo um mol de pontos no meu conceito.
SlothSam
Puta merda, ganso.
Tenha dó.
Brizola sempre foi uma mala sem alça…
Nanda
Como diz meu pai, o inferno está em festa!!! hehehe beijos
Gabriel
Ele vc levaria na rodoviária? e tal e coisa?
Roberto RJ
Vc diz isso pq não morou no rio de janeiro quando ele foi governador… tchau brizola, já foi tarde!
Caco Barcellos
‘‘Ao Brizola, eu devo o primeiro lápis que tive na vida, o primeiro caderno – que a minha mãe guarda até hoje –, a oportunidade de praticar esporte e música em um espaço digno e o acesso à alimentação com proteína de primeira linha. Impossível também esquecer o dia em que eu e os meus colegas lá do Partenon recebemos um tênis padrão das ‘brizolinhas’, como eram chamadas as milhares de escolas públicas que ele mandou construir nos bairros pobres de Porto Alegre. Lembro, como se fosse hoje, que ouvi a justificativa do Brizola pelo rádio:
‘É um absurdo que os animais do nosso País sejam mais bem-tratados que nossas crianças. Nunca vi no Brasil um bezerro abandonado, nem cavalo sem ferradura no casco. Toda criança pobre tem que ter, no mínimo, o direito a um sapato no pé’.
Isso foi objeto de muitas críticas na imprensa dos conservadores, que já naquela época tentavam desmoralizá-lo, dizendo que o Brizola era o prefeito dos ‘pés-de-chinelo’, como se isso fosse uma ofensa.
Portanto, a ajuda dele foi indireta, mas fundamental, decisiva. Eu só comecei a estudar aos 8 anos de idade porque, até 1958, não havia vagas disponíveis, eram raríssimas as escolas públicas para o primário na periferia de Porto Alegre. Da mesma forma, o ginásio onde estudei também foi construído durante a gestão dele na prefeitura da cidade.
Por causa dessa base emotiva, nunca deixei de acompanhar com interesse a trajetória do Brizola como estadista. Décadas depois, vibrei muito quando ele reproduziu a experiência das ‘brizolinhas’ no Rio de Janeiro, que ganharam o nome de Cieps, com o incentivo de outro guerreiro dos trabalhadores ‘não-organizados’ do País, o Darcy Ribeiro.
Ambos vão fazer muita falta. Nunca entendi por que ele jamais teve o apoio da esquerda dos sindicalistas, dos trabalhadores organizados de São Paulo. Mas essa é uma história para uma carta mais longa. Espero que algum dia o Brizola tenha a sua obra e a importância histórica reconhecidas não só pelos pobres do Brasil.”
Fernando
Brizola foi faca amolada e não esse sonhador bobo, espécie de nacionalista de folhetim, Policarpo Quaresma dos pampas, que andam pintando por aí. Quando soube da morte do Leonel – governador de dois estados, herói da legalidade, sujeito homem – fiquei comovido de verdade. E fiquei puto por ver a forma como pintaram o velho gaudério. Brizola foi homem de discursos e de ação, construiu escolas e pegou em armas, fez mais inimigos do que amigos, foi traído por muitos mas nunca traiu ninguém. Não precisava de retoques: se sua vida foi assim, que o deixassem morrer como viveu.
Homens como Brizola não conhecem meio termo, tem horror a hipocrisia e querem distância dos rapapés da formalidade. Ele não queria terminar a vida como se não tivesse inimigos, recebendo elogio choroso da Miriam Leitão. Tenho certeza de que preferiria um editorial da Globo bem feliz, comemorando a partida de mais um caudilho nacionalista e atrasado. Conhece-se o caráter de um homem pelos inimigos que tem, já dizia um sábio.
O pecado de Brizola foi amar demais, como talvez dissesse o Paulinho da Viola. Amou o Brasil de modo tão violento, tão passional, que fez política como quem defende um filho ou um irmão: com as vísceras. Quando a paixão e a razão se encontraram esteve no lugar certo, mas com o dobro da coragem dos simplesmente racionais. Quando a paixão e a razão se desencontraram esteve do lado errado, encontrou inimigos que não existiam, combateu pessoas a quem deveria se aliar. Acertou quando a vida pedia coragem, e errou onde a coragem não cabia na vida.
O Brasil deveria saber amar Brizola como ele o amou. Dos “filhos teus que não fogem a luta”, ele foi dos mais corajosos, sinceros, passionais e honestos. Ele não temeu quem adora a nossa pátria à própria morte. Estes agora querem transforma-lo em navalha sem corte. Pelo bem da história tomara que não consigam.